Maria Coroada - Scisma da Granja do Tedo
Por Decreto de 6 de novembro de 1836 o Secretário de Estado do Reino procedeu a uma reorganização profunda dos concelhos. Granja do Tedo foi uma das antigas “vilas” que perdeu esse estatuto, sendo integrada no concelho de S. Cosmado.
Uma das reações públicas a esta “despromoção” terá germinado em casa do Mestre-Régio de então, José Custódio. Com a esposa Cristina Gaspar e os seus 10 filhos, servindo a própria casa como “Arca da Aliança” para uma nova religião, foi designada e para isso coroada como sacerdotisa uma das suas filhas, Maria das Neves. Isto em 1840.
Numa mistura de religião e política, propunham-se lutar contra a monarquia reinante, instaurando uma nova ordem, um “Mundo Transformado”. Nesse Novo Mundo promovia-se o poder dos mais necessitados, designadamente as mulheres, as crianças, os órfãos, viúvas, etc.
Sendo certo que as autoridades paroquiais e diocesanas não tenham esboçado qualquer reação durante os sete anos em que a nova religião terá prosperado, as novas autoridades administrativas do recém-criado concelho de S. Cosmado resolveram em 1847 banir pela força a “seita”. E fizeram-no com tal violência, que expulsaram para as terras vizinhas tanto a “Maria Coroada” como os seus irmãos coadjuvantes…
A propósito desta história, escreve o conceituado encenador Prof. João Garcia Miguel: “Foi o que realmente aconteceu, diz-se. Em 1840, na ressaca da Guerra Civil Portuguesa, um mancebo chega a uma aldeia duriense e traz consigo um livro cheio de histórias. Seguindo os ensinamentos desse livro, os populares de Granja do Tedo fundaram um movimento social e religioso que duraria sete anos, liderado pela curandeira Maria das Neves, autodenominada “Terceira Eva, por Jesus Coroada”. A valorização do papel da mulher, o apelo ao naturismo, a solidariedade com os pobres ou o incremento do ensino gratuito eram algumas das suas reivindicações. Alguns autores exploram a origem e a potência desse encantamento. (…) Maria Coroada fala-nos da capacidade de conversar com os deuses que vivem dentro de nós, da coragem de ir à procura de vozes que nos transcendem. Fala-nos também do poder de um livro para transformar uma comunidade. E da beleza dessa transformação.”