Longa
HISTÓRIA:
Situada a meia encosta, onde se terá desenvolvido desde a Alta Idade Média, a povoação de Longa fez parte do Couto de Leomil nos alvores da nacionalidade. No entanto, é mais fácil identificar a sua vetustez através dos inúmeros sítios arqueológicos existentes, que remontam a períodos bem mais recuados, do que através da documentação que chegou aos nossos dias referente ao período medieval.
O próprio topónimo de Longa, remete-nos para a arqueologia, supondo-se que será de origem latina, e referir-se-ia a uma sepultura e relacionar-se-ia, possivelmente, com a edificação primitus da igreja ou, apesar do singular do étimo, com uma necrópole composta por prováveis sepulturas rupestres, há muito desaparecidas.
Certo é que o povoamento da área correspondente à freguesia de Longa é antiquíssimo, existindo inúmeros sítios arqueológicos que provam a sua ancianidade, desde o Povoado do Graíl, datado do período do Calcolítico, ou a Anta situada junto ao Cruzeiro do Alto da Quinta, passando pela bem conhecida Citânia de Longa (também denominada de Castelo de Longa ou Castelo dos Mouros no séc. XVIII), classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1992, situada no cume do monte do Muro e que datará da Idade do Bronze, e pelo Povoado da Encosta do Muro, ao que parece, do período do Bronze Final e Idade do Ferro, entre muitos outros sítios.
A fundação da Igreja de São Pelágio de Longa poderá ter ocorrido no séc. X, em homenagem ao menino mártir S. Pelágio (martirizado em Córdova). Porém, pelo facto de se encontrar em terras do Ermamento, deverá ter sofrido todas as vicissitudes das guerras entre Cristãos e Mouros até que, finalmente, em finais do séc. XI teve a sua situação estabilizada e, provavelmente, restabelecida a sua paróquia. Nas inquirições de 1220-1229 aparece mencionada como Sancta Maria de Longa, na diocese de Lamego, denotando orago mariano por provável influência dos monges de S. Pedro das Águias, devido a eventual legado de parte do padroado por herdeiros dos fundadores da igreja.
Depois, em 1268, há notícia da apresentação in solidum na vigairaria de Longa do Pe. Lourenço Martins pelos Cónegos do Cabido da Sé Lamecense, monges de São Pedro das Águias, herdeiros e padroeiros, tendo aquele sido posteriormente instituído e confirmado pelo bispo de Lamego D. Paio. Já com o arrolamento paroquial do reino, de 1321, no reinado de D. Dinis, a paróquia de São Paio de Longa aparece mencionada como tendo sido taxada em 30 libras.
Segundo alguns autores, Longa terá tido foral novo outorgado em 15 de fevereiro de 1514 por D. Manuel I. No entanto, tratar-se-á, verdadeiramente, do foral atribuído à vila de Loriga, pois, nas partes referentes à Pena d’Arma, aquele documento remete para o extensíssimo Foral de Lousã, em detrimento do Foral de Lamego. Apesar disso, em 1527, o Cadastro do Reino alude ao concelho de Longa, então já constituído por 50 fogos habitacionais, que se encontrava ainda na casa de Marialva (Senhores de Leomil), até que passou para a Coroa dez anos mais tarde, por extinção daquela casa, sem herdeiros sobrevivos.
No Censual da Sé de Lamego, da 1.ª metade do séc. XVI, Longa aparece referida como Abadia, sendo o seu abade da apresentação do Cabido da Sé de Lamego em alternativa com os monges do Mosteiro de São Pedro das Águias, seguida de confirmação do Senhor Bispo. Mais se refere que a Visitação era paga através do antigo costume do Jantar.
Posteriormente, no ano de 1708, ficamos a saber que a vila de Longa, pertencente à Coroa, era então composta por 90 fogos habitacionais, sendo o seu governo civil, judicial e militar exercido por um juiz ordinário, dois vereadores e um procurador do concelho, que compunham o seu senado, existindo, ainda, um escrivão da câmara, um meirinho e uma companhia de ordenança (com respectivo capitão). A igreja paroquial, com a invocação de São Pelágio, possuía a categoria de Abadia de colação ordinária, apresentada alternativamente pelo Cabido da Sé de Lamego e pelos Frades Bernardos [de São Pedro das Águias].
Devido às querelas em volta do padroado da Igreja de Longa, por força da alternativa da sua apresentação, desde o séc. XV e até meados do Séc. XVIII, muitos processos judiciais tiveram lugar entre o Cabido da Sé de Lamego e os religiosos do Mosteiro de São Pedro das Águias da Ordem de Cister, apenas estabilizando nas décadas de 1740/1750, a favor dos Cónegos de Lamego.
Alguns desses dados foram corroborados pelo Abade de Longa, Pe. Manuel da Guerra Torres, nas respetivas Memórias Paroquiais de 1758, tendo aquele referido, a título de curiosidade, o Castelo de Longa, numa época em que a sociedade começava a despertar para a arqueologia e história das nações.
O concelho de Longa foi extinto em 6 de novembro de 1836, passando, enquanto freguesia, para o concelho de S. Cosmado, extinto, por sua vez, a 24 de outubro de 1855, data em que foi anexada ao concelho de Tabuaço.
Tal como as restantes freguesias do concelho de Tabuaço, Longa possui uma grande riqueza ambiental, paisagística, histórica e cultural. No que concerne à arqueologia há a referir a Citânia de Longa, o Menir da Chã, considerado como o segundo maior menir de Portugal, o Menir do Alto da Loba, o Povoado Calcolítico do Grail, o Povoado da Encosta do Muro e a Mesinha do Redoiro, os vestígios de estruturas altimedievas do Monte Rei, diversos troços de vias romanas/medievais que ligam a povoação à Citânia, à Granja do Tedo, a Arcos e a Nagosa, um lagar medieval no Talefe, a Anta (ou dólmen) do Alto da Quinta, diversas fossetes nos lugares da Lapinha e de Santo Isidoro, sistas no lugar do Castelo, um fragmento de sarcófago medieval que terá sido aproveitado na edificação de uma casa no Largo do Eirô, e um provável marco miliário, embutido em muro no caminho dos Covais.
Relembrando o antigo concelho é possível referir o Pelourinho de Longa, no Largo da Praça, talvez edificado ainda no séc. XV, a primitiva Cadeia e a antiga Casa da Câmara, o Penedo da Forca, bem como o antigo Tribunal e Cadeia (nova) de Longa, sito no Largo do Eirô, cujo edifício desempenha atualmente a função de sede da Junta de Freguesia.
Relativamente ao património religioso o destaque vai para a Igreja Matriz de Longa, templo de origem medieval cuja decoração e arquitetura atual nos remete para os estilos Maneirista, Barroco Joanino e Neoclássico, com interior bastante cenográfico pelos elementos maneiristas e barrocos que o ornamentam, nomeadamente as coberturas interiores em falsa abobada de berço abatido com caixotões pintados com motivos hagiológicos e cenas da vida da Virgem e de Cristo, complementados por precioso conjunto de talha joanina dourada e policroma, composto pelo altar-mor, pelos altares colaterais e laterais e pela talha que cobre o arco cruzeiro.
Existe ainda um Santuário dedicado a Nossa Senhora da Saúde, cuja capela foi inaugurada em 1930, a Capelinha da Senhora da Guia, oitocentista, a Capela de São Miguel, da 2.ª metade do séc. XVIII, a Capela de Santo Isidoro, do séc. XVII, a Capela de São Sebastião, dos sécs. XVIII e XIX, e a Capela de Santo António, com elementos de finais do séc. XVI. É possível ainda admirar o Calvário antigo, o Calvário novo no Santuário da Senhora da Saúde, a Cruz do Alto da Quinta e o Monumento à Senhora da Saúde, locais que convidam à meditação e à fruição da paisagem envolvente.
No que concerne à arquitetura civil residencial será de referir, entre outros inúmeros imóveis construídos ao longo dos séculos, a Casa do Abade, com janela manuelina, o Solar dos Ferreira Cardoso, seiscentista e com pedra d’armas (picada), ou a romântica Casa dos Leões e o Palacete da Rua de São Miguel, ambos do séc. XIX. A arquitetura civil de equipamento aparece representada através das Fontes da Rigueira, do Cimo de Vila, das Alminhas e do Fontanário da Praça, este com uma quadra em latim datada de 1835. Como marco comemorativo é possível referir o Cruzeiro dos Centenários de Longa, novecentista.
DADOS GERAIS:
- Concelho: Tabuaço
- Área: 7,26 km²
- População: 209 habitantes (censos 2021 - resultados provisórios)
- Orago: São Pelágio
IGREJA MATRIZ DE LONGA (São Pelágio)
GPS: 41º 03’ 34.65’’N | 7º 35’ 35.72’’W
Templo de arquitetura essencialmente maneirista, barroca e neoclássica, composto por nave única com capela-mor mais estreita, e torre sineira e sacristia adossadas ao lado Norte. Os seus alçados, em cantaria, encontram-se delimitados por cornija saliente e pilastras nos cunhais rematadas por pináculos piramidais. A sua fachada principal apresenta eixo pronunciado com remate em empena, nela se rasgando o portal sobrepujado por janelão. Os seus portais apresentam-se sobrepujados por entablamento e frontão triangular. A iluminação é feita, tanto na nave como na capela-mor, por janelas em capialço. A sua torre sineira, de características neoclássicas, com três registos e remate em coruchéu, é a mais alta torre sineira do concelho de Tabuaço.
No seu interior, é possível admirar o excelente efeito cenográfico provocado pela conjugação de elementos maneiristas e barrocos, que tornam este templo significativamente importante como exemplo de estudo da evolução do barroco regional, destacando-se as coberturas interiores em falsa abobada de berço abatido com 109 caixotões pintados com motivos hagiológicos e cenas da vida da Virgem e de Cristo, trabalhos de oficina regional que denotam boa qualidade na execução e pintura. A complementar os tetos guarda-se um precioso conjunto de talha joanina dourada e policroma, composto pelo altar-mor, pelos altares colaterais e laterais e pela talha que cobre o arco cruzeiro. É interessante a solução arranjada para o travejamento do teto da nave, e que se encontra pintado com motivos fitomórficos.
A pia batismal deverá ser a primitiva, do período românico ou gótico, composta por monólito de granito simples, em forma de taça, suportado por fuste de base quadrada que se chanfra aos cantos tornando o fuste ligeiramente oitavado. Curiosamente, o corpo da capela-mor encontra-se levemente assimétrico ao da nave, denunciando a anterior construção medieval e de que se conserva alguma imaginária desse período.
LOCAIS DE INTERESSE:
- Igreja Matriz de Longa (São Pelágio) (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Citânia de Longa, Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 26-A/92, de 01-06-1992
- Pelourinho de Longa, Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 23112, de 11-10-1933
- Santuário de Nossa Senhora da Saúde e Capelinha da Senhora da Guia
- Capela de Santo António
- Capela de Santo Isidoro / Santo “Isidro”
- Capela de São Miguel
- Capela de São Sebastião
- Menir da Chã
- Vias romanas/medievais que ligam a povoação à citânia, à Granja do Tedo, a Arcos e a Nagosa
- Marco Miliário, no caminho dos Covais
- Povoado Calcolítico do Grail
- Povoado da Encosta do Muro / Antiga / Redoiro
- Mesinha do Redoiro
- Vestígios de estruturas altimedievas do Monte Rei
- Lagar medieval no Talefe / Mãe da Loba
- Menir do Alto da Loba
- Anta (ou Dólmen) do Alto da Quinta
- Fossetes nos lugares da Lapinha e de Santo Isidoro
- Sistas no lugar do Castelo
- Fragmento de sarcófago medieval, em casa no Largo do Eirô
- Calvário de Longa (antigo)
- Cruzeiro do Alto da Quinta
- Casa do Abade (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Casa da antiga Câmara de Longa / Casa seiscentista no Largo da Praça (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Antigo Tribunal e Cadeia de Longa (atual Junta de Freguesia)
- Cadeia Primitiva, no Beco do Largo da Praça (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Penedo do Torneiro / Penedo da Forca
- Fontanário e inscrição oitocentista no Largo da Praça (Incluídos na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Fonte das Alminhas / Fonte das Lapas / Fonte de Santo António
- Fonte da Rigueira / Fonte Velha / Fonte do Povo de Baixo
- Fonte do Cimo de Vila
- Azenha de Longa (Parcialmente incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Casas e fonte de arquitetura vernácula no Lugar do Castelo
- Conjunto da ponte do ribeiro da Várzea, ruínas de casas, lagares, moinhos e levadas do Monte Rei
- Ponte sobre o ribeiro da Várzea, lugar da Várzea, em Longa
- Conjunto da Eira Comunitária e edificações de arquitetura vernácula, no Bairro Dr. Octávio Carvalho Cruz
- Conjuntos de edificações e eiras, de arquitetura vernácula, nos sítios da Calaça e do Calvário
- Conjunto de arquitetura vernácula (caleiras e abrigos edificados) no Lugar dos Rebolos/Serra
- Forno do Povo, na Rua da Calçada (Rua Manuel Vicente da Cruz)
- Cruzeiro dos centenários de Longa (Incluído na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Solar dos Ferreira Cardoso / Ferreira de Seixas / Solar do Largo do Pateo
- Casa dos Leões / Palacete Nunes de Sousa, na Rua Direita
- Casa seiscentista / setecentista na Rua José Antunes Figueira
- Casa quinhentista da Rua do Outeiro, n.º 2 (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Casa dos Pimentas / Palacete na Rua de São Miguel
- Casa dos Laras / Palacete novecentista no Largo da Praça (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Palacete na Rua Boaventura José de Carvalho
- Casa oitocentista na Rua Boaventura José de Carvalho (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Casa oitocentista na Rua Direita
- Chalet oitocentista no Largo da Praça (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Casa oitocentista do Largo da Praça, n.º 74 (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Conjuntos de casas quinhentistas, seiscentistas e setecentistas de arquitetura vernácula no Largo do Eirô, Beco do Eirô, Rua Direita, Beco da Rua Direita, Rua da Fonte, Rua de São Miguel e Beco da Rua de São Miguel
- Conjunto de casas de arquitetura vernácula na Rua do Bairro Alto
- Conjunto de casas de arquitetura vernácula entre as Ruas da Costa e do Carregal
- Conjunto de casas de arquitetura vernácula na Rua do Outeiro e Rua do Sobredo (Incluídos na Zona de Proteção do Pelourinho de Longa)
- Quinta de Longa / Quinta das Enxudas / Quinta de Ribatedo
- Quinta da Portela / Villa Braga
- Quinta de Santo António, na Rua do Outeiro
FESTAS E TRADIÇÕES
- Festa em honra de São Pelágio – 26 de junho
- Festas de Nossa Senhora da Saúde – 1.º domingo de agosto
ASSOCIATIVISMO:
- Associação Centro Social de Longa
- Associação Planta Abraços
PERCURSOS PEDESTRES