Granja do Tedo
ALDEIA PRESERVADA DA GRANJA DO TEDO
HISTÓRIA:
A fundação da povoação de Granja do Tedo encontra-se envolta em lendas que se entrelaçam com factos históricos. Conta-se que a sua fundação foi atribuída a “Dom Tedon, filho de D. Ermigio Albumazar Ramires, que era filho illegitimo de D. Ramiro o Segundo Rey de Leaõ, depois de haver alcãçado grandes vitorias dos Mouros, & lhe poz o feu nome pelos annos de 1030”.
No entanto, o topónimo «Granja» apenas terá começado a ser utilizado em Portugal aquando da entrada da Ordem de Cister em Portugal – primeiro em Tarouca entre 1138 e 1143, e depois em São Pedro das Águias, tratando-se de um topónimo de origem monástica referente ao latino «granu-», adaptado para a língua franco-francesa, e que designa as quintas fundadas dentro dos coutos dos mosteiros de Cister.
Assim, facilmente se aceitará a existência, no tempo de D. Afonso Henriques, de um mosteirinho de monges beneditinos na atual Granja do Tedo, dedicado a «São Fraústo», e que D. Dordia Gomes (esposa de Garcia Rodrigues, Senhor de Leomil) e seus filhos terão beneficiado com carta de herdade, dentro do Couto de Leomil, “aos que na ermida de São Fraústo vivem ou viverem”, e que acabou, pouco depois, por ser anexado ao Mosteiro de São Pedro das Águias por falta de rendas suficientes para o seu sustento, continuando estes religiosos, no entanto, a administrar os sacramentos aos moradores do lugar até os confiarem ao pároco da Abadia de São Cosmado, à qual a paróquia andou anexa até ao séc. XIX.
Em 1527, de acordo com o Cadastro do Reyno, Granja do Tedo aparece já referida como vila e concelho, contando apenas com 31 fogos habitacionais, não possuindo “ouutro lugar nem quymta no termo”. O Censual da Sé de Lamego, do 2.º terço do séc. XVI, não menciona a paróquia de S. Faustino, mas apenas a paroquial de S. Cosmado à qual estaria anexa, e cujo padroado pertencia então aos Condes de Marialva, Senhores de Leomil. Todavia, deveria existir já uma ermida dedicada aos, ao tempo, padroeiros São Gonçalo e Santo Estêvão, a Norte do Lugar de Baixo, no sítio a que actualmente chamam o «Santo» ou «Mártir», e que cumpriria as funções de uma capelania que no séc. XVIII já se achava dedicada a S. Sebastião, com a tradição de ter sido a antiga matriz.
Apenas em 1623, por ordem do Pe. Lic. José Francisco, Abade de São Cosmado, passou a vila de Granja do Tedo a ter uma Igreja Paroquial construída de raiz (cujas obras se iniciaram em 1621), dedicada a São Faustino e São Jovita, vindo desse modo substituir a antiga ermida. A sua Irmandade das Almas terá sido constituída logo a seguir, em 1626, conforme se pode ver por um banco, actualmente guardado na sacristia, que ostenta aquela data e uma inscrição alusiva ao Sacramento.
Em 1708, aparece referida como vila com 150 vizinhos (fogos habitacionais) e igreja paroquial da invocação de São Faustino, curato anexo da Abadia de São Cosmado.
Em 1758, nas Memórias Paroquiais redigidas pelo respectivo Vigário, Pe. Heitor de Miranda, é referida a existência do seu juiz ordinário e respetiva câmara, cujo concelho viria a ser extinto em 6 de novembro de 1836, passando a freguesia do concelho de São Cosmado, por sua vez extinto em 24 de outubro de 1855, data em que foi transferida para o concelho de Tabuaço.
Bastante rica em termos de história e património cultural, existem no seu território vestígios arqueológicos que nos fazem recuar ao período romano, nomeadamente os troços de viação antiga que ligam a Granja do Tedo a Longa e a Leomil, e talvez as fundações das atuais pontes que atravessam o Tedo e o Tedinho, provavelmente recuperadas na Idade Média, se tivermos em consideração os cavaletes pronunciados e depois reedificadas no séc. XVII, conforme documentação da época.
Do período medieval existirão as ruínas do antigo Mosteiro beneditino de São Fraústo e do templo que serviu de paroquial, depois capela de São Sebastião, nos lugares do Santo e Mártir, bem como um fragmento de tampa de sepultura medieval cristã, atualmente guardada no pátio do Solar Oliveira Rebelo.
Do séc. XVII subsistem as ruínas do Hospício dos Frades que se achava ligado à Capela da Senhora do Socorro, e que foi erigido para convalescença dos frades doentes de Salzedas, administradores da referida Capela. Referência, também, para a denominada Casa dos Mouros, ainda sem estudo e datação que a atribua a um período histórico específico, e o conhecido e enigmático Poço de Ferro, no leito da ribeira de Leomil.
No que concerne ao património religioso é de referir a Igreja Paroquial da Granja do Tedo, com excelente altar-mor joanino, a Capela das Chagas de São Francisco (com a qual se instituiu o Morgadio da Granja do Tedo), a Capela de Nossa Senhora do Socorro, concluída em 1615, e a Capela de Nossa Senhora das Mercês, da 2.ª metade do séc. XVIII, em estilo rococó, incorporada no solar dos Oliveira Rebelo, ou ainda o Cruzeiro no Largo do Adro, do séc. XVIII, os Passos da Via-sacra, espalhados pelas ruas da povoação, e o pequeno Nicho de Santo António, à entrada do lugar do Povo de Baixo.
No plano da arquitetura civil privada poderão ser observados, além de uma grande variedade de outros imóveis habitacionais edificados entre os sécs. XVI e XIX, diversos edifícios solarengos, designadamente o majestoso solar dos Oliveira Rebelo (Morgados da Granja do Tedo) e um Palacete seiscentista, ambos no Povo de Cima, ou ainda o palacete da família dos Lucenas e Mergulhões, no Povo de Baixo, no seio da qual foi instituído, por ordem real, o título de Visconde da Granja do Tedo.
Destaque, também, para a «Arca da Aliança», também conhecida como «Casa dos Santos Custódios», onde Maria Coroada estabeleceu, no 2.º quartel do séc. XIX, uma seita religiosa que deu origem ao famoso Cisma da Granja do Tedo.
Relativamente à arquitetura civil pública política e judicial, recordando a antiga qualidade de concelho, preserva-se o seu interessante Pelourinho, a antiga Casa da Câmara e Tribunal e a antiga Cadeia, todos no Povo de Cima, sendo de referir, no plano da arquitetura comemorativa, o Cruzeiro dos Centenários, no sítio da Portelada.
Como elementos de arquitetura civil de equipamento conservam-se uma Azenha Hidráulica, junto à Ponte do Tedo, a Azenha Artesanal da Lameira, junto ao Ribeiro de Meixide, o Forno Comunitário, na Rua da Laje, a Eira comunitária e construções conexas, no Povo de Cima, as Poldras, no rio Tedo, um Moinho na ribeira de Leomil, junto à praia fluvial, e a Fonte do Largo da Praça, de pendor seiscentista, no Povo de Cima.
Destaque, também, para a praia fluvial e suas piscinas, para o parque de merendas e para o Jardim Histórico que nos recorda o amor de D. Thedon e da princesa árabe Ardínia.
IGREJA PAROQUIAL DE GRANJA DO TEDO (São Faustino e São Jovita)
(GPS: 41º 04’ 07.70’’N | 7º 36’ 54.13’’W)
A Igreja Matriz da Granja do Tedo foi construída entre 1621 e 1623, tendo sido mandada edificar pelo Abade José Francisco, Abade de S. Cosmado. É um templo de arquitetura essencialmente maneirista e barroca, composto por nave única e capela-mor, com anexos e sacristia adossados ao lado norte.
A fachada principal, voltada a este, apresenta empena rasgada por vãos postos em eixo composto por portal de volta perfeita, ladeado por janelas e sobrepujado por óculo, tendo, no lado direito, duplo campanário. A fachada lateral esquerda apresenta porta travessa com arco de volta perfeita a que se sobrepõe grande lápide com inscrição epigráfica alusiva à fundação. A iluminação é feita, tanto na nave como na capela-mor, por janelas em capialço rasgadas na fachada lateral esquerda.
No seu interior conserva tetos compostos por falsas abóbadas de berço de madeira, com caixotões pintados com motivos florais na capela-mor e com motivos hagiográficos na nave. Também o subcoro se encontra forrado com caixotões pintados com cartelas, motivos fitomórficos e concheados. No batistério, situado no lado do Evangelho, na zona do subcoro, guarda-se interessante pia batismal.
O presbitério encontra-se em plano superior, separado da nave por escadaria de nove degraus, com corpos laterais avançados e guardados por balaustrada, a que se segue o arco triunfal de talha policroma, de perfil abatido e bastante amplo, criando a sensação de espaço interno único. Nele impera o interessante e majestoso retábulo do altar-mor, composto por talha dourada e policroma joanina. Também o altar das Almas, do lado da Epístola, apresenta importante trabalho de talha dourada e policroma do barroco joanino. Por sua vez, no lado do Evangelho, podemos apreciar um altar maneirista, de seiscentos, dedicado actualmente ao Sagrado Coração de Jesus, e o altar rococó de Nossa Senhora das Neves, da segunda metade do séc. XVIII.
Encontramo-nos perante um interessante templo onde é possível, através das inscrições epigráficas, percorrer com segurança as diversas fases construtivas a que foi sujeito, além de apresentar um importante recheio artístico.
Ponte Antiga da Granja do Tedo
(GPS: 41º 04’ 00.40’’N | 7º 36’ 55.11’’W)
Os dois povos da Granja do Tedo encontram-se ligados pela sua Ponte Antiga, que poderá ter tido origens no período romano, com eventual reconstrução na Idade Média e, depois, por volta de 1640, sob projeto do arquiteto e mestre de obras de cantaria David Álvares, morador em Viseu. Perto desta ponte, mas já sobre o Tedinho, encontra-se uma segunda ponte de menores dimensões, da mesma fábrica.
Estamos perante um monumento de arquitetura civil de equipamento que poderá abarcar os períodos romano, medieval e seiscentista, sendo um bom exemplo de ponte em cantaria de granito, de cavalete ligeiramente pronunciado, constituída por arco único de volta perfeita, irregular, sem talhamares, apoiada em afloramentos rochosos nas margens do rio. O seu arco possui arquivolta de uma só fiada de aduelas paralelepipédicas. O preenchimento lateral e superior do arco é feito por blocos de pedra aparelhada, regular.
Conserva guardas ou parapeito de duas fiadas de blocos aparelhados formando ângulo pouco pronunciado. O seu pavimento é composto por lajes de granítico cobertas por paralelepípedos do mesmo. Todo o tabuleiro terá uma largura aproximada de 4,5 a 5 metros e um comprimento de cerca de 25 metros. Da linha de água até ao ponto mais elevado do cavalete contar-se-ão cerca de 8 metros.
DADOS GERAIS:
- Concelho: Tabuaço
- Área: 4,67 km²
- População: 156 habitantes (censos 2021 - resultados provisórios)
- Orago: São Faustino e São Jovita
LOCAIS DE INTERESSE:
- Igreja Paroquial da Granja do Tedo (São Faustino e São Jovita)
- Capela das Chagas de São Francisco (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Granja do Tedo)
- Capela de Nossa Senhora do Socorro
- Cruzeiro setecentista no Largo do Adro
- Passos da Via-sacra da Granja do Tedo
- Ruínas do Hospício dos Frades, no Lugar de Cima
- Pelourinho da Granja do Tedo (classificado como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 23122, de 11-10-1933)
- Antigos Tribunal e Câmara da Granja do Tedo, sitos na Rua do Arco do Tribunal (Incluído na Zona de Proteção do Pelourinho de Granja do Tedo)
- Antiga Cadeia de Granja do Tedo, no Lugar da Eira
- Ponte Antiga da Granja do Tedo
- Ponte Antiga do rio Tedinho
- Cruzeiro dos Centenários, no sítio da Portelada
- Solar Oliveira Rebelo e Capela de Nossa Senhora das Mercês (incluído parcialmente na Zona de Proteção do Pelourinho de Granja do Tedo)
- Solar dos Lucenas e Mergulhões / Palacete do Visconde da Granja do Tedo, no Povo de Baixo
- Palacete seiscentista, no sítio da Eira (Incluído na Zona de Proteção do Pelourinho de Granja do Tedo)
- Casa de Átrio, junto à Ponte do Rio Tedo
- Casa do Passadiço, na Rua de Maria Coroada
- Casa de Maria Coroada / Casa dos “Santos Custódios” / “Arca da Aliança”
- Casa seiscentista / setecentista na Carreira de Santo António
- Casa seiscentista / setecentista na Rua Abel Barradas
- Casa seiscentista / setecentista na Rua da Fonte
- Casa seiscentista / setecentista na Rua de Maria Coroada
- Conjunto de casas seiscentistas e setecentistas no Largo do Rossio
- Conjuntos de casas de arquitetura vernácula nas Ruas Abel Barradas, de Maria Coroada, da Senhora do Socorro e no sítio da Lameira
- Conjunto de casas quinhentistas / seiscentistas no Largo da Praça, no Povo de Cima (incluído parcialmente na Zona de Proteção do Pelourinho de Granja do Tedo)
- Fonte do Largo da Praça, no Povo de Cima (Incluída na Zona de Proteção do Pelourinho de Granja do Tedo)
- Azenha artesanal da Lameira, junto ao Ribeiro de Meixide
- Azenha hidráulica da Ponte
- Eira comunitária e construções conexas, de arquitetura vernácula, no sítio da Eira, no Povo de Cima
- Forno comunitário, na Rua da Laje
- Moinhos do rio Tedo
- Sítio Arqueológico do Santo e Mártir (fundações da antiga igreja paroquial / Ruínas da antiga capela de S. Sebastião e do Mosteiro beneditino de São Fraústo)
- Troço de via romana Arcos / Longa / Granja do Tedo
- Troço de viação antiga Granja do Tedo / Leomil
- Fragmento de tampa de sepultura medieval cristã, guardada no pátio do Solar Oliveira Rebelo
- Casa dos Mouros
- Poço de Ferro, no leito da ribeira de Leomil
- Rua do Bicão
- Jardim Histórico da Granja do Tedo
- Praia Fluvial e Piscinas
HISTÓRIAS E LENDAS:
- Lenda de Ardínia e D. Tedon
- O Cisma da Granja do Tedo
- História da Mulher-Homem
FESTAS E TRADIÇÕES:
- Festa em honra Nossa Senhora das Neves - 5 de agosto
- Via Sacra Noturna de Sexta-feira Santa
ASSOCIATIVISMO:
- Associação D. Thedon e Ardínia
- Rancho Folclórico da Granja do Tedo
PERCURSOS PEDESTRES