Cabriz
HISTÓRIA:
Autores antigos referem que os irmãos Ramirez, D. Thedon e D. Rausendo, ascendentes dos Senhores de Távora e filhos de D. Ermigio Ramirez e de D. Dordia Ozores, netos do infante D. Alboazar Ramirez (o Cid) e de D. Helena Godes e, por sua vez, bisnetos de D. Ramiro II de Leão e da célebre moura Zahara, ao descerem do Minho para batalhar os mouros, no séc. XI, terão fundado a povoação de Cabriz que começou com a construção dos celebres castelos de Cabriz, ou de Távora, como também eram conhecidos devido à proximidade do rio, e onde se refugiavam após as contendas. Diz-se que esse lugar se terá tornado o primeiro solar da geração dos de Távora.
Lendas, ou talvez não…, podem ainda hoje ser observadas ruínas de construções medievais nos cumes dos três pequenos montes escarpados que se encontram rodeados pelo rio Távora a sul, oriente e norte e que apenas são acessíveis por estreito carreiro a oeste.
Conta-se, também, que a povoação que surgiu a poente daquela atalaia, antigamente denominada de Castelo de Távora, será temporalmente posterior ao abandono do castelo e terá tomado o topónimo de Cabriz devido à existência de abrigos nas suas proximidades onde se guardavam grandes rebanhos de cabras.
Mais tarde, já em 1527, a povoação aparece com a denominação de “lugar de cabrys”, dentro do termo da vila de Sendim, contando com 14 fogos habitacionais. Mais ou menos pela mesma época a paróquia de Santa Maria de Sendim é mencionada no Censual da Sé de Lamego, não se fazendo, contudo, qualquer referência a capelas no lugar de Cabriz, se bem que pudesse já existir uma pequena ermida, que seguramente já existiria no séc. XVII, época em que poderá ter sido ampliada, conforme se pode observar em alguns dos seus elementos decorativos.
Já em 1708, o lugar “Cabris”, no concelho de Sendim, contava 40 fogos, sendo mencionada a “Ermida de S. Maria Magdalena” e um castelo que antigamente fora morada dos ilustres capitães “D. Thedon” e “D. Rauzendo”, e de onde saíam para fazer a guerra aos mouros.
As mesmas informações são corroboradas pelo Reitor de Sendim nas respetivas Memórias Paroquiais, em 1758, nas quais deixou vertido que no termo do concelho incluía-se, entre outros, o lugar de “Cabris”, composto por 37 fogos habitacionais, existindo no dito lugar uma ermida de “Santa Maria Magdalena” erigida e fabricada pelos moradores, com capelão pago pelo povo para lhes dizer “Missa em todos os domingos e dias Santos”. Mais se referia que o “apréstimo” de um dos beneficiados da Colegiada de Sendim era composto pelos dízimos que recebia do “lugar de Cabris”, e que renderia, naquele tempo, 70$000 réis anuais.
Quem quiser calcorrear caminhos antigos e descobrir Cabriz poderá começar por visitar os vestígios de um povoado do Bronze Final implantado na área da atual Quinta dos Pinheiros, entre dois picos graníticos formando defesa natural, e onde surgiram restos de cerâmica, sem decoração, além de elementos de mós manuais.
Um pouco mais à frente poderá deter-se junto da Capelinha da Senhora da Boa Morte, com curiosa planta de forma circular, mandada levantar em 1760 por herdeiros de Manuel Dias, da Quinta do Pereiro, em sua memória. Ao lado desenvolve-se um curioso conjunto de arquitetura vernácula composto por diversas construções rústicas que a tradição aponta como locais de armazenamento de pão e de apoio à eira entretanto abandonada.
De seguida, e se tiver coragem para se aventurar por escarpas e lendas da nossa História, sempre poderá subir aos Castelos de Cabriz, compostos pelas ruínas de um povoado medieval onde se pode destacar a denominada Pedra do Mapa, restos de construções em alvenaria e degraus escavados na rocha de acesso a uma plataforma de vigia e a uma pequena lagareta.
Por último, e como não poderia deixar de ser, há que visitar a Capela de Santa Maria Madalena, que hoje nos oferece um templo onde imperam os elementos maneiristas, barrocos e rococós.
CAPELA DE SANTA MARIA MADALENA
GPS: 41º 03’ 33.72’’N / 7º 30’ 42.65’’W
A sua construção remontará aos sécs. XVI, XVII e XVIII, possuindo elementos de arquitetura maneirista e barroca. A fachada principal, voltada a sul, em empena com cruz latina no vértice, encontra-se rasgada por portal de verga reta, ladeado por janelas quadrangulares, tendo, sobre o cunhal esquerdo, uma sineira em arco de volta perfeita assente em impostas salientes e dois plintos paralelepipédicos, rematada por cornija e dois pináculos piramidais, contendo a inscrição "ESTA CAPELA HE DE / S(ANCTA) M(ARIA) / M(AGDALENA)".
No interior, possui pia de água benta assente em coluna facetada e amplamente decorada, e púlpito com vestígios de pinturas murais, formando falsos adamascados. Destaca-se o arco triunfal de volta perfeita, assente em impostas salientes e pano com aparelho de cantaria à vista, irregular e com juntas pintadas de branco, através do qual se acede à capela-mor que possui pavimento em lajeado de granito, com supedâneo de dois degraus, convexo na zona central.
O retábulo, em talha dourada e policroma, de estilo rococó, possui zona central côncava e cinco eixos definidos por seis colunas, de fuste liso e capitéis coríntios, assentes em altos plintos paralelepipédicos com as faces almofadadas. Ao centro abre-se um nicho de perfil curvo, com fecho concheado e fundo pintado de azul, a fingir brocados, contendo pequena mísula, com a imagem do orago, na base do qual surge sacrário embutido, envolvido por grande moldura concheada e porta decorada com cruz em baixo-relevo. Os eixos laterais possuem painéis pintados, com molduras recortadas e concheados, representando santos: "S(ANCTO) UBALDO", "N(OSSA) S(ENHORA) DO / SECORRO", "S(ANCTA) / EUFEMIA" e "S(ÃO) / ROQUE". O conjunto é rematado por grande tímpano semicircular, marcado por quarteirões, fragmentos de frontão, cartelas e concheados. O altar possui forma paralelepipédica, em estilo joanino, sendo o seu frontal ornado por uma caderna rodeada por resplendor e rematada por coroa real, tendo a pleno centro uma cruz floretada, e, em plano lateral, um sol e uma lua insculpidos, tudo rodeado por plumas, festões de rosas e folhas de acanto em baixo-relevo.
FESTAS E TRADIÇÕES:
- Festa em honra de Santa Maria Madalena - 22 de julho
LOCAIS DE INTERESSE:
- Capela de Santa Maria Madalena
- Capelinha de Nossa Senhora da Boa Morte
- Castelos Naturais de Cabriz
- Conjunto de arquitetura vernácula, junto à Senhora da Boa Morte
- Fonte do Milagre
- Povoado da Quinta dos Pinheiros
- Calçada romana / medieval
FESTIVIDADES
- Festa em honra de Santa Maria Madalena - 22 de Julho
PERCURSOS PEDESTRES