Barcos
ALDEIA VINHATEIRA DE BARCOS
HISTÓRIA:
Barcos, localizada na região do Douro, é uma das seis Aldeias Vinhateiras da região. Ergue-se sobre um platô ligeiramente ondulado e é uma das povoações mais importantes do concelho de Tabuaço, sendo a sua freguesia constituída pela povoação homónima e pela povoação de Santo Aleixo que se situa numa das encostas do rio Távora.
O seu topónimo, Barcos, remete-nos para o termo germânico «Barc», no seu plural, alusivo a marcos de delimitação territorial. Conta-se que perto da povoação de Barcos existiu, nos primórdios da Nacionalidade, um castelo medieval que terá sido construído pelo donatário da terra para defesa das investidas mouriscas.
Outros escritores referem que a antiquíssima paróquia de Santa Maria do Sabroso, anterior à fundação da nacionalidade, terá dado lugar, nos séculos XIV/XV, à paróquia de Nossa Senhora da Assunção de Barcos, para a qual se terá mudado a sede abacial, que também era colegiada. No entanto, o templo gótico de Barcos, ainda de inspiração românica, deveria já existir desde, pelo menos, o séc. XIII. Santa Maria do Sabroso aparece taxada, aquando do arrolamento paroquial do Reino de 1321, em 300 libras. Mesmo depois da mudança da sede da Colegiada para Barcos, continuou a Igreja de Santa Maria do Sabroso a servir de sede paroquial de Pinheiros e Carrazedo, até à primeira década de mil e setecentos.
Embora incluída no extenso Couto de Leomil, que chegava ao Douro, a povoação de Barcos cedo se constituiu como concelho, com extenso termo, quando comparado com os demais concelhos limítrofes, e respetivas justiças apresentadas pelos Senhores do couto e seus descendentes. As Inquirições de 1258 referem-no como concelho subordinado ao Couto de Leomil.
Autores antigos referem que D. Afonso III lhe deu foral em 1263, enquanto outros aludem ao facto de ter sido outorgado no ano de 1255. Ora, se Barcos foi uma herdade regalenga, embora dentro do Couto de Leomil, e desse modo se identifica com a povoação que recebeu aquele foral, ou carta de foro, ficarão desvanecidas diversas dúvidas relativamente à outorga do mesmo, havendo, até, a possibilidade de terem coexistido determinadas exceções, talvez derivadas de direitos sucessórios de alguns dos descendentes dos Senhores de Leomil, cuja parte dos bens herdados dentro de uma mesma área territorial tivesse revertido para a Coroa. Poderá, talvez, ser a razão da mudança da sede paroquial do lugar do Sabroso para o de Barcos.
Por outro lado, entre os séculos XVI e XVII, os dízimos da paróquia de Barcos, e suas anexas, que chegaram a render 4000 cruzados, foram sustento dos cónegos da Catedral de Tânger, que apresentavam os párocos. Extinto o cabido de Tânger e Ceuta, passaram os dízimos para a colegiada de Barcos e o padroado para a Coroa. No termo do seu concelho achavam-se inclusas, em 1527, as seguintes povoações, além da vila de Barcos (que teria 71 moradores ou fogos habitacionais): o “lugar do Reygo” (Adorigo, com 26 moradores), o “lugar de samta locaya” (Santa Leocádia, com 16 moradores), o “lugar de samta leyximo” (Santo Aleixo, com 9 moradores) e o “lugar de sam tardão” (Santo Adrião, atualmente no concelho de Armamar, com 12 moradores).
Já em 1708, Barcos aparece referida como sendo vila da Coroa com 160 vizinhos (fogos) e uma igreja paroquial dedicada a Nossa Senhora da Assunção, reitoria de colação ordinária, anteriormente apresentada pelos Cónegos da Sé de Tanger a quem pertenciam os dízimos, e já nessa época pertencente ao Padroado Real. Na sua igreja existiam quatro beneficiados, um coadjutor e um sacristão, este último apresentado pelo reitor. Estavam-lhe anexas as paróquias de “N. Senhora de Adorigo”, “N. Senhora da Conceiçaõ de Pinheiro”, “S. Adriaõ” e “S. Eulalia de Balfa & Defejofa”, todas com a categoria de Curatos. Em termos administrativos e judiciais dispunha de dois juízes ordinários, três vereadores, um procurador do Concelho, escrivão da câmara, juiz dos órfãos e capitão-mor com duas companhias de ordenanças (cada uma com seu capitão). O concelho era, nessa época, abundante em pão, vinho, linho, castanha, algum azeite e possuía muitos pomares de fruta. Todas estas informações foram corroboradas pelo Reitor da Colegiada de Barcos, Pe. José Rodrigues Pereira, nas respetivas Memórias Paroquias de 1758.
Em 1835, aquando da criação do efémero distrito de Lamego, Barcos foi elevada a cabeça de julgado, compreendendo uma extensa área que abrangia os concelhos de Barcos, Arcos, Chavães, Granja do Tedo, Longa, Paradela, Pinheiros, Sendim, Tabuaço, Távora, Valença do Douro, Armamar, Goujoim, Lumiares, S. Cosmado, Santa Cruz, Vila Seca, Castelo e Nagosa.
O concelho de Barcos foi o último dos concelhos a ser extinto definitivamente, por Decreto de 24 de outubro de 1855, a favor de Tabuaço. Desde os finais do séc. XVII e até à primeira metade do séc. XIX, Tabuaço vinha conquistando uma certa hegemonia na região, desde a criação do cargo de capitão-mor até à criação do julgado de Tabuaço, cerca de 1769, com respectivo juiz de fora, competindo desse modo, e principalmente, com Barcos e Sendim, e depois sobrepondo-se a estas duas vilas.
O Pelourinho de Barcos, padrão da sua antiquíssima autonomia municipal, foi desmantelado ainda no séc. XIX (talvez subsista um fragmento trabalhado do seu capitel, perto do local de origem), restando, no entanto, a primitiva Casa da Câmara e Cadeia, a antiga Casa da Roda dos Expostos, bem como o majestoso edifício, de finais de setecentos ou inícios do século seguinte, edificado para servir de Paços do Concelho e Tribunal, e a Mata da Forca, onde aquela terá sido levantada, aproveitando as estruturas altimedievas de um lagar, e que se encontra classificada como Imóvel de Interesse Municipal.
No que se refere à sua arqueologia, será necessário não esquecer outros sítios que merecem atenta visita, como por exemplo o Castro do Sabroso, o Casal Romano de Vila Chã 1, o Povoado Neolítico/Calcolítico de Vila Chã 2 ou um troço de via romana/medieval, entre Barcos e o Sabroso.
Do seu vasto património cultural, importa referir a excelsa Igreja Matriz de Barcos, classificada como Monumento Nacional desde 1922, e que terá sido edificada nos sécs. XIII/XIV, em estilo românico, sendo posteriormente objeto de novas obras nos sécs. XVII, XVIII, XIX e XX, e que conserva elementos arquitetónicos e decorativos dos estilos românico, gótico, maneirista e barroco. Existem outros lugares de fé, como por exemplo a românica Igreja de Santa Maria do Sabroso, antiga sede paroquial, a capela de Santa Bárbara, a capela de São Pedro, no interior do Castro do Sabroso, o Nicho do Senhor da Boa Viagem ou os inúmeros Passos de Via-Sacra e o Calvário de Barcos, edificados ao longo dos principais eixos viários da antiga vila durante os séculos XVII e XVIII.
Outros edifícios encontram-se ligados à história da paróquia, nomeadamente a seiscentista Casa da Colegiada, o Passal de Barcos, a antiquíssima Pedra do Sardão ou os vestígios da Capelinha de Nossa Senhora da Piedade, talvez do séc. XVI.
Na área da arquitetura de equipamento há a referir o Fontanário setecentista do Largo do Adro, a Fonte Velha, que sofreu obras no séc. XIX ou o antigo Forno do Povo. O sóbrio e majestoso Cruzeiro dos Centenários de Barcos ergue-se perto da Matriz.
Como marcos da arquitetura civil residencial, temos, entre outros inúmeros imóveis edificados ao longo de séculos, o Solar dos Cunhas, o Solar dos Magalhães Coutinho e a Casa dos Aguiar.
No seu território existem inúmeras quintas agrícolas e de produção vitivinícola, nomeadamente as Quintas de Paradela, da Pereira, do Ramiro, da Raposeira, de Vale da Busa, do Vale do Barco e a principal e mais histórica da freguesia, a Quinta do Monte Travesso, com capela dedicada a Nossa Senhora das Graças, que ao longo dos últimos dois séculos tem estado ligada a figuras importantes da história da região do Douro.
IGREJA MATRIZ DE BARCOS (Monumento Nacional)
(GPS: 41º 07’ 21.17’’N / 7º 36’ 03.93’’W)
Classificada Monumento Nacional em 1922, a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção destaca-se, sobretudo, pelo esplendor do seu interior. A raiz deste templo é medieval e nos primórdios da sua existência foi sede da Colegiada de Barcos, sob invocação de Santa Maria de Sabroso ou Nossa Senhora do Sabroso, que assumiu após a transferência da Igreja do Sabroso, antiga sede paroquial.
A parede da capela-mor encontra-se revestida por azulejos originais com ornamentos vegetais, de azul sobre fundo branco, mas é o seu retábulo que expressa a grandiosidade de um dos períodos de maior esplendor na arte portuguesa – o Barroco Nacional.
Na cobertura, composta por vinte e oito caixotões, o visitante pode deleitar-se com pinturas alusivas à vida de Cristo e da Virgem sendo o centro dedicado à padroeira, Nossa Senhora da Assunção.
DADOS GERAIS:
- Concelho: Tabuaço
- Área: 9,81 km²
- População União de Freguesias Barcos e Santa Leocádia: 625 habitantes (censos 2021 - resultados provisórios)
- Orago: Nossa Senhora da Assunção
LOCAIS DE INTERESSE:
- Igreja Matriz de Barcos (Nossa Senhora da Assunção), Monumento Nacional, pelo Decreto n.º 8175, de 03-06-1922
- Santuário de Nossa Senhora do Sabroso / Igreja de Santa Maria do Sabroso / Antiga Igreja Matriz de Santa Maria do Sabroso
- Mata da Forca, Imóvel de Interesse Municipal, pelo Decreto n.º 26-A/92, de 01-06-1992
- Capela de Santa Bárbara
- Capela de São Pedro, no Lugar do Sabroso
- Nicho do Senhor da Boa Viagem
- Passos da Via-sacra e Calvário de Barcos
- Pedra do Sardão
- Vestígios da capelinha de Nossa Senhora da Piedade
- Casa da Colegiada
- Passal de Barcos / Antiga residência paroquial de Barcos
- Casa da Roda
- Pelourinho de Barcos (fragmento), Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 23112, de 11-10-1933
- Antiga Casa da Câmara e Cadeia
- Antigos Paços do Concelho e Tribunal
- Cruzeiro dos Centenários de Barcos
- Fontanário do Largo do Adro
- Fonte Velha
- Antigo Forno do Povo
- Solar dos Cunhas
- Solar dos Magalhães Coutinho
- Casa dos Aguiar
- Quinta do Monte Travesso, Conjunto de Interesse Municipal, por Deliberação da Assembleia Municipal de Tabuaço de 25-02-2005
- Quinta da Padrela / Quinta de Paradela
- Quinta da Pereira
- Quinta do Ramiro
- Quinta da Raposeira
- Quinta de Vale da Busa
- Quinta do Vale do Barco
- Castro do Sabroso
- Casal Romano de Vila Chã 1
- Povoado Neolítico/Calcolítico de Vila Chã 2
- Largar da Forca, na Mata da Forca
- Troço de via romana/medieval entre Barcos/Sabroso
FESTAS E TRADIÇÕES:
- Peregrinação de Maio à Senhora do Sabroso – Último Fim-de-Semana de maio
- Festa em Honra de Nossa Senhora do Sabroso - 15 de agosto
- Festa das Vindimas - setembro
ASSOCIATIVISMO:
- Grupo de Cantares de Barcos
- Associação Amigos dos Bombos de Barcos
- Grupo Coral e Recreativo Nossa Senhora do Sabroso
PERCURSOS PEDESTRES