Santa Leocádia
HISTÓRIA:
Desde a Idade Média e até inícios do séc. XVIII, Santa Leocádia foi um simples lugar da paróquia de Sabroso, pertencendo ao concelho de Barcos, no antigo Couto dos senhores de Leomil.
O seu topónimo revela-nos a antiga devoção a Santa Leocádia, virgem mártir de Toledo, anterior à nacionalidade. Trata-se de um hagiotopónimo que terá servido para intitular a antiga capela e que acabou por designar a povoação. Apesar de o orago ser atualmente, e pelo menos desde o séc. XVII, o de São Bartolomeu, ainda hoje se guarda e venera uma imagem de Santa Leocádia no interior do templo.
De acordo com o Cadastro do Reino, de 1527, no termo do concelho de Barcos achavam-se inclusas diversas povoações, entre as quais a do “lugar de samta locaya” que contava 16 fogos habitacionais. Provavelmente já existiria uma ermida dedicada a Santa Leocádia, que teria dado o nome ao lugar, introduzindo-se posteriormente o culto a São Bartolomeu.
No séc. XVII existem claras referências bibliográficas a Santa Leocádia enquanto lugar da paróquia de Sabroso. Em 1693 procedeu-se à reconstrução ou ampliação da capela de São Bartolomeu, conforme data epigrafada em lápide embebida no muro do seu alçado lateral direito. O templo e seu adro era já usado por esta época para sepultamento dos defuntos da povoação, sem necessidade de irem a sepultar ao Sabroso.
Ainda em inícios do séc. XVIII, Santa Maria de Sabroso continuou a desempenhar a função paroquial de Pinheiros e dos lugares de Carrazedo e Santa Leocádia, sendo o cura de Pinheiros obrigado a deslocar-se à igreja do Sabroso para celebrar os ofícios divinos, administrar os sacramentos e presidir aos demais atos de culto.
Já no 1.º quartel do séc. XVIII, denota-se uma maior autonomia da sua população, demonstrada com o cuidado que foram tendo com o seu templo, mandando fazer os retábulos dos altares laterais ao arco cruzeiro e o do altar-mor, bem como os tetos de caixotões da nave, da capela-mor e o púlpito.
Em 2 de agosto de 1715, depois de deferido o requerimento pelo provisor, Dr. Domingos de Freitas Barreto, o lugar de Santa Leocádia fez-se freguesia independente da de Sabroso, estipulando-se a côngrua do seu cura, o Reverendo Manoel da Silva, que seria apresentado pelo Reitor de Barcos, tendo a população erigido a confraria do Santíssimo Sacramento. O requerimento tinha o seguinte teor: “Dizem os moradores do logar de St.ª Leocadia freg.ª de Sabroso aneixa a Collegiada de Barcos q (…) alcançarão hum breve apostólico p.ª efeito de poderem ter sacrário na capella do d.º povo e querem fazer sua confr.ª aprovada com seus estatutos com os mais necessários...”.
Por volta do 2.º quartel do mesmo século continuaram as campanhas na sua igreja, com a execução do coro-alto e da estatuária em talha que o suportava.
O próprio Pe. Manuel da Silva, cura de Santa Leocádia, mandaria levantar uma capela lateral, particular, no ano de 1727, sob a invocação de S. Pedro, conforme inscrição epigráfica existente numa lápide.
De acordo com as respetivas Memórias Paroquiais, de 1758, redigidas pelo cura Pe. Pedro do Souto, o mesmo escreveu que a paróquia e freguesia de “Sam Bartolomeu” do lugar de Santa Leocádia, aldeia do termo da vila de Barcos, possuía uma igreja com três altares, “todos bem ornados”, “o do Sacramento, e dois colaterais, hũ do Mártir S. Sebastiam e o outro do Nosa Senhora”, bem como um altar particular “em hum nicho dentro da Igreia” que, então, pertencia a Luís Cardoso Pinto.
Entre os sécs. XVIII e XIX Santa Leocádia viu diversos militares e membros da nobreza fixarem-se na sua povoação, talvez devido à sua riqueza agrícola, situação que apenas se inverteria com as guerras napoleónicas, quando grande parte dos seus homens se alistou para defender o país.
Em 24 de outubro de 1855, com a extinção do concelho de Barcos, a freguesia de Santa Leocádia passou para o concelho de Tabuaço.
Santa Leocádia é rica em vestígios arqueológicos, podendo referir-se a Ponte Antiga de Santa Leocádia / Santo Adrião sobre o rio Tedo e que liga os concelhos de Tabuaço e Armamar, classificada como Imóvel de Interesse Público, os vestígios romanos junto à Escola Primária, a Villa romana do Moirão e o Casal Romano de Ribeira das Mestras.
No plano arquitetónico destaca-se o seu impressionante templo paroquial, modesto nas dimensões, mas bastante rico em termos de arte, com fachada principal truncada no vértice por cornija contracurva e recortada a que se sobrepõe uma cruz de hastes lanceoladas e o pórtico principal com frontão em asa de morcego ladeado por aletas voluteadas e centrado por óvalo. No seu interior sobressaem os caixotões dos tetos com motivos hagiográficos e da vida da Virgem Maria, bem como os retábulos dos seus altares, em talha dourada pontuada com alguns elementos policromos, tudo esculpido no denominado barroco nacional, e, ainda, a capela lateral com retábulo do antigo altar de São Pedro, em talha em branco do barroco nacional.
Na freguesia existe ainda a Capela de Nossa Senhora da Saúde, novecentista, os nichos de Santa Leocádia e de Santo António, o cruzeiro dos Centenários de Santa Leocádia e, por exemplo, a Casa do Cabeço, considerada a mais antiga da povoação, e que relembra as habitações das citânias do noroeste peninsular.
Trata-se de uma freguesia onde é significativa a cultura do azeite e onde, desde épocas recuadas, a população se dedica à agricultura e à produção vinícola.
DADOS GERAIS:
- Concelho: Tabuaço
- Área: 2,99 km²
- População da União de Freguesia de Barcos e Santa Leocádia: 625 habitantes (censos 2021 - resultados provisórios)
- Orago: S. Bartolomeu
IGREJA PAROQUIAL DE SANTA LEOCÁDIA (São Bartolomeu)
(GPS: 41º 07’ 33.86’’N | 7º 37’ 38.11’’W)
Templo de arquitetura barroca, em forma de cruz irregular, é composto por nave única, capela-mor ligeiramente mais estreita, capela adossada ao lado sudeste e sacristia adossada ao lado noroeste, tal como a pequena sineira. Os seus alçados, em cantaria aparente, encontram-se delimitados por cornija saliente e pilastras na maioria dos cunhais que se encontram rematadas por pináculos piramidais.
A sua fachada principal, em empena, apresenta-se truncada no vértice por cornija contracurva e recortada a que se sobrepõe uma cruz de hastes lanceoladas. O pórtico principal encontra-se decorado com bela moldura de cantaria, recortada lateralmente por enrolamentos, sendo rematada por frontão em asa de morcego ladeado por aletas voluteadas e centrado por óvalo, a que se sobrepõe um janelão oval com moldura simples de cantaria.
O seu interior é admirável apesar das modestas dimensões do templo. As coberturas interiores, em falsa abobada de berço abatido, estão adornadas com 45 caixotões na nave, e 15 na capela-mor, contendo representações hagiográficas e da vida da Virgem Maria, além de mais 4 painéis com representações de Santos que cobrem o camarim do altar-mor. Os caixotões da nave apresentam bastante qualidade em termos de execução. As próprias traves do teto encontram-se cobertas de talha dourada.
A pia batismal é em forma de taça, com caneluras, assente sobre fuste de secção quadrada. O coro-alto era suportado lateralmente por anjos atlantes em talha, que, na atualidade, passaram a ter a função de mísulas e suportam imaginária nas paredes da nave.
No que concerne aos retábulos, possuem boa talha, essencialmente dourada, pontuada com alguns elementos policromos, tudo esculpido no denominado barroco nacional. No interior da capela lateral guarda-se um belo retábulo do antigo altar de São Pedro, em talha em branco, isto é, sem qualquer policromia ou cobertura a folha de ouro, também do barroco nacional.
PONTE ANTIGA DE SANTA LEOCÁDIA / SANTO ADRIÃO
Imóvel de arquitetura civil de equipamento romana, medieval e seiscentista, esta ponte sobre o rio Tedo é um bom exemplo de ponte em cantaria de granito, de cavalete ligeiramente pronunciado. Terá sido reconstruída na década de 1640. É constituída por dois arcos de volta perfeita, de idênticas dimensões, apoiados por talhamares na parte inferior da enjunta, com seus alicerces lançados sobre os afloramentos rochosos das margens e do leito do rio. Os seus arcos possuem arquivoltas compostas por uma só fiada de aduelas paralelepipédicas.
O preenchimento lateral e superior dos arcos é feito através de blocos de pedra aparelhada, regular, assentes sem qualquer argamassa. Conserva guardas de duas fiadas de blocos aparelhados que formam ângulo pouco pronunciado a partir do meio dos arcos, acompanhando, desse modo, idêntica elevação do tabuleiro da ponte na parte central.
O seu pavimento é composto por lajes graníticas e prolonga-se por maior extensão da via. Em termos de medidas, todo o tabuleiro terá uma largura aproximada de 4,5 a 5 metros e um comprimento de cerca de 24/25 metros. Da linha de água até ao ponto mais elevado do cavalete contar-se-ão cerca de 7/8 metros.
Quem decidir visitar e percorrer esta vetusta ponte situada em vale com largas encostas, sobre o rio Tedo, rodeada por espécies autóctones e terrenos agrícolas e vitícolas, poderá ainda vislumbrar por perto, para norte, no termo de Santa Leocádia, os vestígios do assentamento romano de Moirão, ou tentar encontrar a lendária passagem subterrânea que ligava o Castro do Sabroso a este local. Por perto situam-se, também, as antigas minas de Santa Leocádia.
LOCAIS DE INTERESSE:
- Igreja Paroquial de Santa Leocádia (São Bartolomeu)
- Capela da Nossa Senhora da Saúde
- Ponte Antiga de Santa Leocádia / Santo Adrião (classificada como Imóvel de Interesse Público pelo Decreto n.º 31/83, de 09-05-1983)
- Calçada Romana
- Vestígios romanos junto da antiga escola primária
- Villa Romana do Moirão
- Casal Romano da Ribeira das Mestras
- Cruzeiro dos Centenários
- Casa do Cabeço
- Miradouro
FESTAS E TRADIÇÕES
- Festa em honra de São Bartolomeu – 3.º fim de semana de agosto
PERCURSOS PEDESTRES