Pinheiros
HISTÓRIA:
O povoamento de Pinheiros é assaz antigo conforme o atesta o Santuário Rupestre do Cabeço das Pombas. Na Idade Média terá feito parte do Couto de Leomil, tal como a maior parte das freguesias da margem direita do rio Tedo, passando, talvez ainda no séc. XV, para a posse dos Senhores de Lumiares, por questões de herdamentos, pois, desde então, a povoação aparece mencionada como pertencendo a estes últimos e ligada ao Couto de Lumiares. Tal sucede, por exemplo, no contrato de casamento celebrado em 16 de junho de 1450 entre João Rodrigues Pereira, filho de Gonçalo Pereira (de Riba de Vizela), fidalgos da casa real, e Leonor de Castro, filha de D. Pedro de Castro, com o beneplácito régio de D. Afonso V, em que aparecem referidas, entre muitas outras terras e herdades, as “quintãas” de “Pinheiros e Tavoaço”, que se achariam ligadas ao “couto de Lumiar” e que o noivo recebeu em vida do pai por doação para prover ao pagamento do dote da noiva, com todas as suas rendas, senhorios e jurisdição. Gonçalo Pereira de Riba de Vizela era primo de D. Nuno Alvares Pereira e filho de João Rodrigues Pereira (distinguido na guerra de 1383-1385) e de D. Maria da Silva e neto de D. Maria Gonçalves de Berredo e de Rui Vasques Pereira (Senhores de Lumiares). A sua geração, bem como de seus filhos e netos, acompanhou de perto a Casa Real na aventura em África, fornecendo homens e armas.
D. Manuel I terá outorgado foral ao concelho de «Pinheiro» (Pinheiros, do atual concelho de Tabuaço), em 13 de julho de 1514, o qual, no que concerne à Pena de Armas, remetia para o foral de Lamego.
Em 1527, no Cadastro do Reyno, Pinheiros aparece como concelho, contando com 25 fogos habitacionais, distribuídos pelas povoações de Pinheiros (15 fogos) e de Carrazedo (10 fogos), tendo o seu termo “em comprido mea legoa e de larguo huum terço de legoa”, e partindo e confrontando com o termo de «Gojim» e com o ”Comcelho de gramja de tedo e com o Comcelho de chavões e de barqueiros” (Barcos).
E, no ano de 1537, aparece como pertencendo a António Pereira (senhor do Couto de Lumiares), posto que seria Honra, além de concelho, confirmando-se a sua posse na mesma família desde o século anterior. António Pereira, era filho de João Rodrigues Pereira (Marramaque) e neto de João Rodrigues Pereira e de D. Leonor de Castro, anteriormente referidos. António Pereira terá casado com D. Catarina de Menezes, tendo tido um outro João Rodrigues Pereira, que casou com D. Filipa de Castro. Estes últimos faleceram sem descendência, vagando o senhorio da Honra de Pinheiros, do Couto de Lumiares, e de muitas outras terras da Beira e do Minho para a coroa, em finais do séc. XVI.
Em termos eclesiásticos, foi sede paroquial de Pinheiros, durante a Idade Média, a igreja de Santa Maria do Sabroso. No que concerne ao seu topónimo, Pinheiros advirá do latino «pinu», que provém precisamente de pinheiro, de pinhal. Frei Agostinho de Santa Maria, na sua obra Santuario Mariano, de 1721, refere que a freguesia de Pinheiros (mais precisamente o lugar do Sabroso, onde se achava a Igreja paroquial) terá tido o nome de “Taboelo” na Idade Média, constituindo com a Senhora da Ribeira, em Valença do Douro, as duas freguesias com maior antiguidade e únicas no tempo antigo, aonde vinham a enterrar os defuntos, “muytos deles de mais de três legoas de distancia”. Provavelmente, aquela alusão referir-se-ia ao templo e extinta povoação que hoje conhecemos como Sabroso e que naquela época ainda desempenhava a função de paroquial de Pinheiros e de Carrazedo. Nesse sentido, o cura era obrigado a deslocar-se àquele templo, distante do povo, para celebrar os ofícios, administrar os sacramentos e presidir aos demais atos de culto.
Por outro lado, segundo alguns autores, o orago da antiga ermida de Santa Eufémia, sugere a existência de um núcleo de culto cristão anterior à invasão muçulmana. Ainda em termos de referências eclesiásticas, aparece, curiosamente, no Censual da Sé de Lamego, do 2.º quartel do séc. XVI, a referência a uma vigairaria de Pinheiro como sendo da apresentação Real, e que, segundo alguns autores, apenas pode ser tomada como a vigairaria da igreja da Senhora do Sabroso, sede paroquial, à época, de Pinheiros, de Carrazedo e de Santa Leocádia.
Certo é que, na segunda metade do séc. XVII, já existia dentro da vila e Honra de Pinheiros uma capela dedicada a Santa Eufémia, aonde se começaram a inumar muitos defuntos, até que, em 1704, os curas Manuel Gouveia Nunes da Fonseca e Manuel Correia Rebelo terão assinado um «auto de obrigação» para poderem ter o Santíssimo nessa capela.
Depois de 1708, o Visitador da diocese decidiu mudar a sede paroquial para dentro do povo, devendo, para esse fim, ser reconstruída e ampliada a antiga ermida de Santa Eufémia, que passaria a ser a padroeira. Pela mesma época, a paróquia de Nossa Senhora da Assunção do Sabroso da vila de Pinheiros, ainda com sede na igreja do Sabroso, é dada como sendo uma anexa da Reitoria da Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Barcos, sendo o seu cura apresentado pelo reitor de Barcos.
Já em 1719, ter-se-ão dado por concluídas as obras de reconstrução e ampliação da antiga ermida medieval de Santa Eufémia, conforme o indica a gravação desta data no dintel do portal principal.
Nas respetivas memórias paroquiais estes dados são confirmados pelo respectivo pároco, o Cura Manuel da Cruz, designadamente o facto de ser vila, sede de concelho e honra, pertença do Infantado, mais propriamente do Infante D. Pedro, sendo o seu governo civil constituído por juiz ordinário e respetiva câmara. Provavelmente teria ainda um escrivão da câmara, um procurador do concelho e uma companhia de ordenanças com respectivo capitão.
Curiosamente, também refere a existência de uma antiga Torre, hoje em ruínas, que teria pertencido ao 2.º Marquês de Castelo Rodrigo, D. Manuel de Moura Corte Real, que também era Conde de São Cosmado e Senhor de Pinheiros. Segundo rezam as crónicas, D. Filipe III de Portugal terá feito mercê do Senhorio de Pinheiros, que se acharia vago, ao 2.º Marquês de Castelo Rodrigo. No entanto, andando a honra de Pinheiros ligada ao Couto de Lumiares, provavelmente a mercê da mesma terá sido feita logo por volta de 1590 por Filipe I a D. Cristóvão de Moura, herdando, depois, seus descendentes essas terras e coutos, nomeadamente seu filho D. Manuel de Moura Corte Real, depois Marquês de Castelo Rodrigo.
Com a aclamação de D. João IV, o Senhor de Pinheiros, segundo o Cura Manuel da Cruz, ter-se-á retirado para Castela, tendo sido privado das suas rendas bem como proibido o seu ingresso no Paço Real e aos seus descendentes até à quarta geração.
O mesmo pároco escreve, também, que já no reinado de D. João V, por licença real, chegou a tomar conta da Honra de Pinheiros, e das suas rendas, um descendente do Marquês de Castelo Rodrigo. Todavia, achando-se o novo Senhor de Pinheiros devedor de grande soma em dinheiro à Casa Real Portuguesa, D. João V privou-o das rendas da Honra de Pinheiros, passando esta, já no reinado de D. José, para a Casa do Infantado.
Segundo Almeida Fernandes, a referida torre poderá ser anterior ao reinado de D. Dinis, embora não apareça referida nas respetivas inquirições, talvez pelo facto de se achar nessa altura no Couto de Leomil, aonde os inquiridores reais não puderam entrar.
O concelho de “Pinheiro” ou Pinheiros, com uma única freguesia de Santa Eufémia, contava em 1828 um total de 106 fogos e 350 habitantes, tendo sido extinto em 6 de novembro de 1836, passando a sua freguesia (com os dois lugares, Pinheiros e Carrazedo), para o concelho de Barcos. Com a extinção do concelho de Barcos em 24 de outubro de 1855, a freguesia de Pinheiros transitou para o concelho de Tabuaço.
No que concerne aos imóveis onde se processava a antiga vida municipal aparentemente nada resta, nem o próprio Pelourinho de Pinheiros, que terá sido desmantelado em data desconhecida.
Pinheiros possui diversos sítios com interesse arqueológico, nomeadamente as Gravuras Rupestres do Cabeço das Pombas, a Villa romana de Eirinha do Paço e as Ruínas da Torre de Pinheiros.
Relativamente ao seu património cultural, é possível visitar a Igreja Paroquial de Pinheiros, com a sua arquitetura maneirista e barroca, onde no seu interior se podem admirar bons retábulos de talha dourada e policroma de transição do denominado estilo barroco nacional para o joanino. O teto da capela-mor conserva os seus caixotões, permitindo observar as representações de alguns Santos. Dois raros frescos maneiristas persistem nos panos interiores da capela-mor.
O visitante pode ainda subir ao monte que se situa a norte, sobranceiro à povoação, e orar na Capela de Santa Bárbara. Se preferir, pode descansar um pouco nos degraus do Cruzeiro de Pinheiros, na Praça Ageu Fonseca Moreira. Pode ainda admirar as construções habitacionais com seus patins em granito, e que se implantam em torno do Adro e em diversas ruas do centro da povoação, que se enchem de romeiros em dia de Santa Eufémia.
DADOS GERAIS:
- Concelho: Tabuaço
- Área: 8,21 km²
- População da União de Freguesias de Pinheiros e Vale de Figueira: 239 habitantes (censos 2021 - resultados provisórios)
- Orago: Santa Eufémia
IGREJA PAROQUIAL DE PINHEIROS (Santa Eufémia)
(GPS: 41º 06’ 10.83’’N | 7º 36’ 39.16’’W)
Templo de arquitetura maneirista e barroca, composto por nave única, capela-mor mais baixa e estreita, e sacristia, anexo e torre sineira adossados ao lado norte. As suas fachadas encontram-se delimitadas por pilastras lavradas com toro entre filetes, com cunhais rematados por pináculos piramidais. O alçado principal possui um campanário no remate da empena e uma torre sineira lateral que segue tipologia idêntica. O portal principal é enquadrado por duas pequenas janelas quadrangulares, com moldura lavrada com toro entre filetes, contendo inscrições no seu dintel.
No seu interior é possível admirar bons retábulos de talha dourada e policroma de transição do denominado estilo barroco nacional para o joanino. O teto da capela-mor conserva os seus caixotões com representações de Santos. Dois raros frescos maneiristas persistem nos panos interiores da capela-mor.
Berço da romaria a Santa Eufémia, uma das mais concorridas da região de Lamego, continua a chamar os povos de Tabuaço e dos concelhos em redor por grande devoção e para pagamento de suas promessas.
Da tradição oral, aqui ficam alguns versos:
Milagrosa Santa Eufémia
Que dais aos vossos romeiros?
Dou água das minhas fontes,
Sombra dos meus castanheiros.
Milagrosa Santa Eufémia,
Que dais a quem vos vem ver?
Dou água das minhas fontes,
A quem a quiser beber.
LOCAIS DE INTERESSE:
- Igreja Paroquial de Pinheiros (Santa Eufémia)
- Capela de Santa Bárbara
- Cruzeiro de Pinheiros, na Praça Ageu Fonseca Moreira
- Gravuras Rupestres do Cabeço das Pombas
- Villa romana de Eirinha do Paço
- Ruínas da Torre de Pinheiros
- Conjunto de casas seiscentistas e setecentistas no Largo do Adro, em Pinheiros
ASSOCIATIVISMO
- Associação Unidos Por Pinheiros
FESTAS E TRADIÇÕES
- Festa em honra de Santa Eufémia – 16 de setembro
PERCURSOS PEDESTRES