Paradela
HISTÓRIA:
O antigo concelho de Paradela, com origem medieval, e que também foi sede do Couto de São Pedro das Águias (largos séculos incluídos no antigo termo daquele), tem as suas raízes envoltas na história dos próprios Senhores de Távora, seus antigos donatários, bem como dos seus descendentes.
O seu topónimo poderá reportar-se a um local de «parada» (paragem) do senhor, que aí teria refeição preparada para o receber e manter na sua maior ou menor demora em provável visita à localidade que seria seu domínio. Poderá, também, significar um termo topográfico, alusivo a pequena encosta, talvez pouco declivosa (o que não é o caso, mas sim o contrário), tendo em consideração “o seu diminutivo”, fazendo-se no seu alto a «parada» (descanso), conforme o declive ou a extensão.
D. Afonso III terá possuído na vila de Paradela dois casais que trouxe arrendados, e, já em meados do séc. XV, o lugar pertenceu a Álvaro Pires de Távora, sendo o juiz ordinário do concelho por aquele nomeado e ganhando «a tinta da chancelaria», conforme se conta em pergaminho antigo.
Segundo alguns autores, o culto ao Divino Espírito Santo, orago de Paradela, terá sido introduzido em Portugal, no séc. XII, pela Ordem dos Templários, que teve papel preponderante na reconquista cristã e na formação do reino, gozando da proteção da própria ordem de Cister. Ora, Paradela foi a sede do couto de São Pedro das Águias, mosteiro beneditino que adotou a regra cisterciense e que teve papel preponderante ao nível do desenvolvimento regional, criando povoações, concelhos e quintas.
Em 1527, o Cadastro do Reino dá-nos conta que Paradela era concelho com 42 moradores (fogos habitacionais, existindo dentro do seu termo o Mosteiro de São Pedro das Águias, do qual não se descreve o número de fogos nem de habitantes, o próprio lugar de Paradela, sede do concelho, com 35 moradores (fogos habitacionais), a “qymtã da gramja nova” (atual Granjinha), com 6 fogos, e a “qymtã da veleyra” (atual Quinta da Aveleira, na freguesia de Távora), com um fogo habitacional. Já no ano de 1537, há notícia de pertencer a Luís Alvares de Távora.
Em 1708, Paradela aparece referida como sendo vila do Marquês de Távora, contando com 70 vizinhos (fogos) e uma igreja paroquial com a Invocação do Espírito Santo, sendo o seu cura apresentado pelo Vigário da vila de Sendim. Efetivamente, apesar de Paradela ser sede do Couto de São Pedro das Águias, bem como de um concelho, a sua paróquia escapava àquele por ter sido criada posteriormente, sendo até ao séc. XIX curato anexo à Colegiada de Santa Maria de Sendim. Foi ainda mencionado que, para nascente da vila, distante um quarto de légua, se localizava uma “Ermida de S. Pedro o Velho”, bem como que a meia légua de distância existia um “Convento de Frades Bernardos da invocação de S. Pedro das Aguias, o qual tem de renda oito mil cruzados, & o fundaraõ D. Thedon, & D. Rauzendo entre duas altiffimas ferras , pelo meyo das quaes faz fua corrente o rio Tavora”. Mais aludiu à existência de um lugar no seu termo “que chamaõ a Granja” (Granjinha), o qual tinha 40 vizinhos (fogos) e uma “Ermida de S. Amaro”. Em termos económicos era considerada fértil de pão, vinho, castanha e linho, recolhendo algum azeite. No entanto, nada se referia relativamente à composição das suas autoridades municipais.
Em 1758, nas Memórias Paroquiais, o seu pároco, Pe. José Rego, veio descrever que Paradela dispunha de um juiz ordinário e casa da câmara, sujeita ao ouvidor da Casa de Távora, que assistia na vila de Alfandega da Fé. Deveria ainda possuir, provavelmente, um ou dois vereadores, um escrivão do judicial e notas, um procurador do concelho e uma companhia da ordenança (com respectivo capitão). Mais deixou vertido que Paradela era Couto não podendo entrar nela Corregedores, nem outros Ministros, sem especial Decreto, bem como de que existia ainda um lugar com o nome de “Granjinha de Sam Pedro das Aguias”, com trinta moradores (fogos), que pela justiça estaria obrigado a Paradela e pelo espiritual estaria obrigado ao “Convento dos Religiosos de Sam Bernardo” [do Mosteiro de São Pedro das Águias].
O concelho de Paradela, que englobava as freguesias de Paradela (que em 1828 contava 60 fogos e 200 habitantes) e de São Pedro das Águias (Granjinha, que, então, contava 50 fogos e 225 habitantes), foi extinto em 6 de novembro de 1836, transitando aquelas para o concelho de Tabuaço.
Aparentemente, não chegaram até nós os símbolos da sua antiga autonomia municipal, como por exemplo o Tribunal, o Pelourinho (apesar de poder subsistir vestígio do seu capitel), a Cadeia ou a Forca. Mais seguro parece ser a existência da antiga Casa da Câmara, atualmente com função residencial.
No entanto, guarda um conjunto patrimonial significativo, como por exemplo na área da arqueologia, sendo possível referir as gravuras rupestres da Eira do Monte 1, o Povoado da Idade do Ferro de S. Mamede, a famosa Pedra do Cavalo, o casal romano da Eira do Monte 2, um lagar romano/medieval, sito na Eira do Monte, as gravuras de Eira do Monte 3, os marcos delimitadores do padroado que a Universidade de Coimbra detinha sobre a paróquia, por ser filial da paróquia de Sendim entre outras inúmeras referências.
No que concerne ao património religioso, é possível visitar a Igreja Paroquial de Paradela onde impera a arquitetura e a decoração maneirista e barroca. A sua nave é curiosamente antecedida por nártex suportando a torre sineira. No seu interior é possível admirar as coberturas interiores em falsa abobada de berço abatido, compostas por 77 caixotões na nave e 28 na capela-mor, com pinturas de gosto regional, representando motivos hagiográficos ou florais. Encontra-se adornada com bons retábulos de talha dourada e policroma, resultando o altar-mor da junção de elementos maneiristas com outros do barroco inicial e joanino.
Pode-se visitar, ainda, as Capelas de Santa Filomena e de São Mamede, esta última localizada num autêntico miradouro natural, de onde se descobre grande parte do vale do rio Távora. Será necessário não esquecer alguns edifícios com arquitetura erudita, além da Casa do Muro e da Casa dos Frades, construções de arquitetura vernácula onde ecoam lendas e histórias dos monges de Cister.
DADOS GERAIS:
- Concelho: Tabuaço
- Área: 5,80 km²
- População: 99 habitantes (censos 2021 - resultados provisórios)
- Orago: Divino Espírito Santo
IGREJA PAROQUIAL DE PARADELA (Divino Espírito Santo)
GPS: 41º 03’ 52.31’’N | 7º 31’ 41.82’’W
Templo de arquitetura maneirista e barroca, composto por nave única antecedida por nártex suportando a torre sineira, capela-mor mais estreita, e sacristia adossada ao lado sudoeste. Os seus alçados, em cantaria aparente, encontram-se delimitados por embasamentos de cantaria, pilastras na maioria dos cunhais e por remates em cornija saliente. Apenas o alçado principal possui um pináculo piramidal a rematar um dos cunhais, sendo a torre sineira rematada por outros quatro.
No seu interior é possível admirar as coberturas interiores em falsa abobada de berço abatido, compostas por 77 caixotões na nave e 28 na capela-mor, com pinturas de gosto regional, representando motivos hagiográficos, da vida da Virgem Maria e de Cristo ou motivos florais.
Encontra-se adornada com bons retábulos de talha dourada e policroma, resultando o altar-mor da junção de elementos maneiristas com outros do barroco nacional e do barroco joanino. Os altares colaterais ao arco cruzeiro, em talha dourada e policroma, encontram-se executados no denominado estilo joanino, facilmente percetível pela utilização conjugada de inúmeros motivos arquitetónicos, dispostos de forma teatral, e cobertos por folha de ouro conjugada com policromia. Grande profusão de atlantes em todos os retábulos, substituindo em alguns casos a utilização de colunas.
Este imóvel, embora tenha sido sujeito a algumas adulterações pontuais (nomeadamente o repinte dos altares do arco cruzeiro com cores que não são as originais), possui vários pormenores notáveis, como por exemplo a sua torre sineira que lhe confere um aspeto bastante distinto de todos os outros imóveis. Os seus tetos, pintados ao gosto regional, encontram-se conservados num total de 105 tábuas.
No altar-mor, equilibrado e bem decorado, cunho de uma época de fausto e cultura, pontua uma excelente imagem de vulto do Divino Espírito Santo, orago da paróquia, pouco comum em termos regionais.
LOCAIS DE INTERESSE:
- Igreja Paroquial de Paradela (Divino Espírito Santo)
- Miradouro e Capela de São Mamede
- Capela de Santa Filomena
- Fragmento do Pelourinho de Paradela
- Antiga Casa da Câmara
- Antiga Tulha
- Marco da Universidade de Coimbra, na Rua da Igreja
- Palacete setecentista na Rua da Igreja
- Casa dos Frades
- Casa do Muro
- Mariola das Corgas
- Antigo forno comunitário de Paradela
- Fonte de S. Mamede
- Pedra do Cavalo
- Povoado da Idade do Ferro de S. Mamede
- Gravuras rupestres da Eira do Monte 1
- Casal romano da Eira do Monte 2
- Lagar romano/medieval da Eira do Monte
- Gravuras de Eira do Monte 3 / Marcos delimitadores do padroado da Universidade de Coimbra
- Sítio arqueológico do Alto do Covo e marcos da Universidade de Coimbra
- Sítio arqueológico da Madurga / Salgueiro
FESTAS E TRADIÇÕES
- Festa em honra de São Mamede – 17 de agosto