Granjinha
HISTÓRIA:
Antiga quinta criada pelo Mosteiro de frades Bernardos de São Pedro das Águias, a atual povoação de Granjinha acabou por crescer bastante ao longo dos séculos até ser considerada como uma paróquia e freguesia autónoma. O seu topónimo, originalmente “Granja Nova”, talvez tenha surgido para distinguir este lugar da povoação de Granja do Tedo. O termo «Granja», terá começado a ser utilizado em Portugal aquando da entrada da Ordem de Cister em Portugal, tendo sido depois utilizado dentro do couto cisterciense de São Pedro das Águias, tratando-se, desse modo, de um topónimo de origem monástica referente ao latino «granu-», adaptado para a língua franco-francesa, e que nomeia as quintas fundadas dentro dos coutos dos mosteiros de Cister.
Em 1527, com o Cadastro do Reino, é confirmada a sua origem como unidade de exploração agrícola, ao ser referida como “qymtã da gramja nova”, dentro do termo do “comcelho de paradela”, contando, então, com 6 fogos habitacionais. Do mesmo modo, era feita referência ao “moesteiro de sam pedro das Ageas” que também estava dentro do “comcelho de paradela”. No ano de 1537, a atual povoação de Granjinha, e o concelho de Paradela onde se inseria, pertenciam a Luís Alvares de Távora.
O seu templo terá sido edificado entre os séculos XVI e XVII, enquanto simples capela, sendo possível destacar no seu interior a atual pia batismal, cuja decoração remonta a esse período, mas que poderá ter advindo da igreja abacial do mosteiro novo. No séc. XVII terá sido acrescentada a torre sineira primitiva e executado um dos retábulos laterais, que contém painéis pintados retratando S. Bernardo e S. Bento, devendo remontar à mesma época a feitura das imagens de vulto de Santo Amaro, de Santo António e de Santa Bárbara.
No ano de 1708, é mencionada a existência da “Ermida de S. Amaro” dentro de “hum lugar” no termo do concelho de Paradela, “que chamaõ a Granja”, o qual tinha 40 fogos habitacionais. O pároco de Paradela, por seu turno, escreveu nas respetivas Memórias Paroquiais de 1758 que no termo do concelho existia um lugar com o nome de “Granjinha de Sam Pedro das Aguias”, com trinta moradores (fogos), que pela justiça estaria obrigado a Paradela e pelo espiritual estaria obrigado ao “Convento dos Religiosos de Sam Bernardo” [de São Pedro das Águias].
Durante o séc. XVIII, o território cerca do mosteiro, incluindo a Granjinha, terá sido freguesia sobre si, denominando-se de “Sam Pedro das Aguias”, e, juntamente com a freguesia da vila de Paradela, pertenciam ao concelho desta última. O pároco de São Pedro das Águias, vigário por título, era, na realidade, um cura com uns 50.000 réis de renda, apresentado anualmente pelo abade de S. Pedro das Águias. A paróquia tinha a igreja abacial do mosteiro como sua sede. Na segunda metade do séc. XVIII terá sido edificado o primitivo altar-mor da capela de Santo Amaro, dentro da Granjinha, em estilo neoclássico, hoje desaparecido.
Ainda no ano de 1828, a paróquia e freguesia continuava a aparecer referida como São Pedro das Águias, dado que a sede continuava a ser na própria Igreja do mosteiro, contando 50 fogos e 225 habitantes. A capela de Santo Amaro e seu adro serviria como provável cemitério da povoação.
Com a extinção do concelho de Paradela, em 6 de novembro de 1836, as suas duas freguesias, de Paradela e de São Pedro das Águias, terão sido anexadas ao concelho de Tabuaço, não sem sobressaltos para a freguesia de São Pedro das Águias, que passou a nomear-se como Águias ou Granjinha e cuja administração civil e eclesiástica andou bastante intermitente durante vários anos, sem que a população da Granjinha e as freguesias limítrofes chegassem a acordo quanto à criação da respetiva paróquia.
Exemplo disso é a referência em 1873 de que a igreja do extinto “Convento de frades bernardos de S. Pedro das Águias” “é matriz da freguezia” de Águias. Passados dois anos é referido que a freguesia de “S. Pedro das Águias” ou “GRANJINHA”, contava, então, 70 fogos, com o orago de Santa Maria, e cuja freguesia estava anexa “á de Sandim”. Se os interessados não conseguiam chegar a acordo quanto ao nome da freguesia, mais difícil era o entendimento quanto à autonomização da freguesia, da paróquia e à fixação do orago.
Elucidativo é o facto de a Câmara Municipal de Tabuaço ter deixado vertido em ata da sua reunião de 5 de setembro de 1877, ter sido «Presente pelo digno Administrador deste Concelho um ofício com procedência do Governo Civil, a fim de a Câmara informar acerca da desanexação da freguesia da Granjinha da de Sendim e da sua anexação à de Paradela. A Câmara resolveu que se dissesse o seguinte: que a anexação d’aquela freguesia à de Paradela não seria muito conveniente pela desinteligência e antipatia que de há muitos anos existe entre os habitantes daquelas duas freguesias e mesmo pela repugnância que actualmente mostram os da freguesia da Granjinha em ser anexada à de Paradela. Que para continuar a estar anexada à de Sendim também não seria justo em consequência de se achar a bastante distância, o ser de por si a freguesia de Sendim bastante populosa e assaz difícil de casas, e finalmente que para se fazer da Granjinha uma freguesia seria isso também de grande demora por ser uma pequena povoação e ir sobrecarregá-la com uma côngrua paroquial com que talvez não possa».
Por seu turno, através do Decreto de 23 de fevereiro de 1888, o lugar e Quinta das Águias ou de S. Pedro das Águias, onde antes funcionou o mosteiro homónimo foi desmembrado da freguesia do mesmo nome, também conhecida como Granjinha, a pedido dos seus proprietários, para passar a integrar o termo da freguesia de Távora. Provavelmente datará dessa mesma década a estabilização administrativa da então freguesia de Granjinha e da sua paróquia, passando a assumir definitivamente o orago de Santo Amaro, de cujo culto havia já notícia desde o início da centúria de setecentos.
Na atualidade encontra-se agregada, juntamente com a freguesia de Paradela, numa União de Freguesias, sendo ambas regidas por uma Junta de Freguesia.
No que concerne ao seu património cultural, a localidade de Granjinha pode-se orgulhar de possuir no seu território uma das jóias do românico em Portugal – a antiquíssima Igreja de São Pedro das Águias – porventura um dos mais belos templos portugueses e um dos melhores exemplares do período românico, apesar das suas diminutas dimensões e localização. Este templo encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público, desde 17 de abril de 1953. Junto a esse antigo eremitério existe uma necrópole medieval que se encontra incluída na sua Zona Especial de Proteção.
Mas a sua riqueza arqueológica não se esgota naquele local, dado que é necessário fazer referência aos vestígios do período Calcolítico do Povoado da Porqueira e à Calçada de Santa Bárbara que se apresenta como um troço seguro de via romana/medieval.
Relativamente ao património arquitetónico, é de mencionar a sua igreja paroquial, com o orago de Santo Amaro, e que apesar das alterações dos últimos 200 anos ainda guarda algumas preciosidades como por exemplo dois altares das centúrias de seiscentos e de setecentos. Um pouco mais afastada da povoação, para sudeste, é possível visitar a Capela de Santa Bárbara, novecentista.
Para norte estende-se o caminho antigo que liga a povoação às quintas que cresceram sob a proteção e influência dos monges. Um pouco mais a norte, esse caminho passava pela entrada da cerca do próprio Mosteiro das Águias e, depois, pela Quinta da Aveleira até chegar a Távora. Por esse sinuoso e deslumbrante caminho é possível ao visitante observar a Quinta da Cruz (atual Casa Daniel), implantada sobre a Penha Amarela, à qual se segue a Quinta das Herédias (antiga quinta do Aranda ou de Pontezellos), classificada como Imóvel de Interesse Municipal, e cujos terrenos, com diversos tipos de armação que o homem duriense foi experimentando ao longo dos séculos para suster as vinhas, em conjunto com os pomares e as hortas, envolvem o núcleo edificado onde sobressai a elegante e romântica Casa do Senhorio e a novecentista capela da quinta, e cuja história está indelevelmente ligada ao cenóbio cisterciense e a famílias importantes da região que a arrendaram ao longo dos últimos 400 anos. Para oeste, é preciso atravessar uma ponte antiga que vence o ribeiro que corre desde Paradela, observando-se logo a seguir, numa cota mais elevada, a oitocentista Quinta do Belo Jardim.
IGREJA PAROQUIAL DE GRANJINHA (Santo Amaro)
GPS: 41º 04’ 00.99’’N | 7º 31’ 09.25’’W
Templo de arquitetura maneirista, barroca, rococó, neoclássica e novecentista. Trata-se de uma igreja composta por nave única e capela-mor, com sacristia adossada ao lado este e sineira adossada ao lado oeste. Os seus alçados, em aparelho irregular de granito, são despojados, havendo apenas pilastras no alçado principal a delimitar o respectivo pano, rasgado ao centro pelo pórtico principal de verga reta, com moldura saliente, sobrepujado por óculo. Interessante recorte com volutas no remate da torre sineira, de que se preservam as pedras da ventana primitiva de arco pleno.
Interiormente possui tetos de madeira corrida em falsa abobada de berço abatido e dois belos retábulos de talha dourada e policroma na nave, um em estilo maneirista de cunho regional, do lado da Epístola, e outro do barroco nacional, com inserção de elementos rococó, no lado do Evangelho, contendo no ático um painel pintado representando uma cena da vida da Virgem. A interessante pia batismal, em forma de taça gomada, é sustentada por estreito fuste octogonal. O altar-mor apresenta-se actualmente composto por estrutura granítica novecentista, que veio substituir o antigo retábulo neoclássico.
DADOS GERAIS:
- Concelho: Tabuaço
- Área: 2,48 km²
- População da União de Freguesias de Paradela e Granjinha: 99 habitantes (censos 2021 - resultados provisórios)
- Orago: Santo Amaro
LOCAIS DE INTERESSE:
- Igreja Paroquial de Granjinha (Santo Amaro)
- Igreja românica de São Pedro das Águias / Mosteiro de São Pedro das Águias (Classificada como Imóvel de Interesse Público, pelo Decreto n.º 39175, de 17-04-1953; Zona Especial de Proteção, pela Portaria de 20-05-1954, publicada no D.G. n.º 132, II Série, de 04-06-1954)
- Capela de Santa Bárbara
- Cruzeiro dos Centenários
- Fonte do Povo
- Casa da Tulha, com pedra d’armas, na Rua do Cantinho
- Ponte sobre o ribeiro de Paradela, lugar das Herédias, em Granjinha
- Quinta das Herédias (classificada como Imóvel de Interesse Municipal, por Deliberação da Assembleia Municipal de Tabuaço, de 29-12-2003)
- Quinta do Belo Jardim (antiga Quinta do Bom Jardim)
- Quinta da Cruz / Casa Daniel
- Caminho antigo entre Távora e Granjinha
- Povoado Calcolítico da Porqueira
- Calçada de Santa Barbara
HISTÓRIAS E LENDAS:
FESTAS E TRADIÇÕES
- Festa em honra de Santo Amaro – 15 de janeiro
- Festa em honra de São Pedro - 29 de junho