Desejosa
HISTÓRIA:
O topónimo da freguesia e povoação de Desejosa, povoação alcandorada nas encostas declivosas do vale do rio Távora, e que já aparece documentada na Idade Média, poderá advir de uma qualificação como “terra desejosa”, porventura desejosa de águas, sendo de notar a existência de um riacho, afluente do rio Távora, cujas águas seriam exploradas pela população, para a sua sobrevivência.
No entanto, certo é que no ano de 1291, D. Dinis declarou que as terras do couto das Águias e de São João da Pesqueira, doadas pelo infante D. Afonso ao mosteiro, ficariam isentas do pagamento da «parada», exceto os 11 casais da Desejosa que contribuiriam com um soldo para esse imposto, além, é claro, dos demais foros, o mesmo sucedendo com os 7 casais de Balsa.
Poderá remontar aos sécs. XIV / XV a edificação da primitiva ermida no lugar de Desejosa e cuja paróquia viria, depois, a ser filial de Santa Maria do Sabroso. Entretanto, em inícios do séc. XVI, os visitadores da ordem de Cister censuraram os poucos monges de S. Pedro das Águias por deixarem as povoações do couto quase sem ofícios divinos, ministrados pelos próprios ou por curas que se tinham obrigado a apresentar, apesar de terem já as suas capelas e igrejas construídas, sendo penoso às populações deslocarem-se ao mosteiro para o efeito.
Em 16 de Maio de 1514, D. Manuel concedeu foral ao concelho de "Valemça do moesteiro de S. Pedro das Aguias", pertencendo-lhe a "aldea de çerçedinho e os logares da desejosa, casáes, e balsa”, e que seriam mais tarde elevados à categoria de freguesias. Desejosa aparece referida em 1527 no Cadastro do Reino como lugar do “comcelho de valemça” contando, então, 5 moradores (fogos habitacionais).
Do séc. XVII há notícia das porções que a Colegiada de Barcos tinha nas suas igrejas anexas, nomeadamente da igreja de Balsa. Ora, uma vez que as paróquias de Balsa e Desejosa se encontravam já unidas nesta época, o valor relativo a Balsa deveria também incluir a porção da paróquia de Desejosa, num total de 22 alqueires de trigo e 2$400 reis.
Curiosamente, em 1708, é referida a existência da paróquia e curato de “S. Eulalia de Balfa & Defejofa”, como sendo anexa à Igreja de Nossa Senhora da Assunção de Barcos, mas faltou referi-las na parte respeitante ao concelho e vila de Valença do Douro, ao qual pertenciam enquanto lugares. O próprio orago de Santa Eulália deverá ser lapso, dado que não se reporta a qualquer dos oragos das duas paróquias anexas. Na 1.ª metade do séc. XVIII, em arrolamento das igrejas paroquiais da diocese lamecense, consta que a respetiva renda beneficial da “reitoria” de Desejosa, se cifrava em “85$000”.
Nota curiosa da vida desta freguesia ocorreu em 29 de janeiro de 1740, quando foi redigido o extenso testamento de António de Almeida e Silva, natural da Desejosa, no qual deixou legados para missas aos domingos e dias santos a serem realizadas nas igrejas de Balsa e Desejosa e instituiu um vínculo de morgado do qual seriam administradores os filhos legítimos de suas irmãs ou, na sua falta, o seu primo Pe. Luís Pereira da Silva, monsenhor e cónego patriarcal. Terá deixado, para o efeito, um capital para a celebração de mil missas por sua alma.
Já em 1758, com as respetivas Memórias Paroquiais, redigidas pelo Cura Manuel de Moura Coutinho, veio aquele referir que as duas freguesias que “hoje se achaõ unidas”, de “Balça” e “Dezejoza” são ambas do termo “da villa de Valença do Douro” e que eram curadas por um só pároco, que era cura ad nutum apresentado pelo Reitor da Colegiada de Barcos. Aludindo à Igreja de Desejosa, escreveu que o seu orago era o de “Sancto Antarao abbade a quem outros chamaõ Sancto Antam”, e descreveu os respetivos altares e imagens dos santos que neles se encontravam “collocadas”. Logo no ano seguinte, com o julgamento dos seus donatários, os marqueses de Távora, o senhorio da freguesia e do concelho onde se inseria, passou para a Coroa.
Em 6 de novembro de 1836, com a extinção do concelho de Valença do Douro, todas as suas freguesias, incluindo a Desejosa (à qual se fundiu a antiga freguesia de Balsa, provavelmente devido ao número insuficiente de eleitores para continuar a ser freguesia autónoma), foram anexadas ao concelho de Tabuaço. Porém, pelo Decreto de 24 de outubro de 1855, as freguesias de Valença do Douro e Desejosa acabaram por ser transferidas para o concelho de São João da Pesqueira. Em 1878 pertencia ao Julgado de Ervedosa. Finalmente, em 7 de setembro de 1895, as freguesias de Desejosa, Valença do Douro e Pereiro foram definitivamente transferidas para o concelho de Tabuaço.
Parte da freguesia encontra-se inserida no Alto Douro Vinhateiro – Património Mundial, nomeadamente a Capela de Santa Bárbara, datada de 1759, situada a meio caminho entre as povoações de Desejosa e Balsa. Há ainda a destacar a Igreja Paroquial de Desejosa, na qual se podem observar elementos arquitetónicos e decorativos maneiristas, barrocos e novecentistas.
Em termos arqueológicos, poderá ser referido o Dólmen 1 de S. Domingos, também incluído no Alto Douro Vinhateiro, e que aguarda campanha de recuperação que possibilite a sua visita pelos turistas.
Igreja Paroquial de Desejosa (Santo Antão)
(GPS: 41º 07’ 51.32’’N | 7º 31’ 56.55’’W)
Templo de arquitetura maneirista, barroca e novecentista, composto por nave única, antecedida por alpendre de construção recente, com colunata de granito, capela-mor mais estreita, e sacristia e pequena sineira adossadas ao lado sul. Os seus alçados, provavelmente em alvenaria mista de xisto e granito, encontram-se completamente rebocados e pintados de branco. A torre sineira é composta por dois registos separados por cornija rebocada, o primeiro cego e o último rasgado por uma ventana de arco pleno e impostas salientes, coroada por entablamento, pináculos e cruz simples.
No seu interior possui coberturas de madeira corrida de três panos na nave, e teto com 20 caixotões pintados ao gosto regional com motivos hagiográficos na capela-mor. Os pisos encontram-se lajeados em granito, com sepulturas numeradas. São interessantes os retábulos de talha dourada e policroma, resultando o altar-mor da junção de elementos maneiristas com outros de barroco nacional. O seu frontal, actualmente destacado, apresenta, tal como a credência, a talha dourada e policromada da época de D. João V, com finos e interessantes lavores.
Os altares colaterais ao arco cruzeiro, apesar de se encontrarem executados em talha dourada e policroma, possuem estilos e épocas de feitura bastante diversos. O altar do Senhor, composto por retábulo contendo duas tábuas pintadas representando São Luís Gonzaga e Santo António, é um bom exemplar do maneirismo regional de inícios do séc. XVII. É bastante expressiva a imagem do Senhor na cruz. O altar de Nossa Senhora do Rosário, profusamente trabalhado e relevado com talha dourada pontualmente policroma, reporta-nos ao barroco nacional. O painel que, em plano posterior, resguarda a imagem da Virgem, apresenta-se pintado com inúmeros anjos e querubins que rendem homenagem e coroam Nossa Senhora.
Capela de Santa Bárbara
(GPS: 41º 08’ 13.31’’N | 7º 32’ 07.84’’W)
A Capela de Santa Bárbara terá sido edificada em 1759, conforme inscrição em letras capitais no dintel do seu portal, inscrição que, por seu turno, ladeia a representação de um castelo ou torre acastelada entre motivos fitomórficos. Apresenta, ainda, outros lavores que a destacam de outras capelas similares, nomeadamente as fenestrações laterais, ovaladas e com voamento pronunciado dos enxalços. Por seu turno, a fachada apresenta-se delimitada, no topo dos cunhais, por pilastras suportando coruchéus piramidais, enquanto que no remate da empena sobressai uma cruz latina, moldurada, sobre o acrotério, com finos lavores representativos dos símbolos da Paixão de Cristo.
Situada a meio caminho entre as povoações de Desejosa e Balsa, encontra-se inserida no Alto Douro Vinhateiro – Património Mundial, assim como grande parte da freguesia.
DADOS GERAIS:
- Concelho: Tabuaço
- Área: 7,7 km2
- População da Freguesia de Desejosa: 117 habitantes (censos 2021 - resultados provisórios)
- Orago: Santo Antão
LOCAIS DE INTERESSE:
- Igreja Paroquial da Desejosa (Santo Antão)
- Capela de Santa Bárbara (Incluída no Alto Douro Vinhateiro, 2001)
- Dólmen de São Domingos (Incluído no Alto Douro Vinhateiro, 2001)
FESTAS E TRADIÇÕES:
- Festa em honra de Santo Antão - 17 de janeiro
ASSOCIATIVISMO:
- Associação da Juventude Ativa da Desejosa e Balsa